Prólogo I

— Introdução —
Acontecimentos que marcaram tempos e lugares. Imagens e ditos benditos e benvindos. Vieram de amigos e parentes, escritores, mitos, músicos, poetas, cineastas, cientistas e filósofos.

Arthur Dapieve. José Saramago, ao olhar a bunda de sua mulher, Pilar, inspira Dapieve na mais perfeita e sintética definição de amor. Um compêndio condensado em uma frase;
Sommerset Maughan. O Fio da Navalha foi um livro que, por conta de uma citação da folha de rostro, levou-me a ler em seguida os Upanishads e o  Bhagavad Gita.
Julio Cortázar e um texto sobre o beijo, que desencoraja qualquer tentação em se escrever algo semelhante;
José Saramago. O mais puro lirismo erótico de uma primeira noite de amor, que se seguiu à mais longa declaração de amor por telefone que alguém já registrou;
Walter Benjamin. Outro olhar, uma outra visão que desmonta os cânones estéticos;
Calderón de La Barca, que afortunadamente intrometeu-se em meu encontro com Aurora em Madrid;
Djavan e os versos que roubei para presentear Jocasta;
Alexander Pope e um poeminha que narra o Gênesis da física moderna, um fiat Newton incomparável;
Anna de Noailles, condessa mundana da Belle Époque, e um curto verso de sete palavras que desafia qualquer tradutor da língua francesa;
Gulherme de Brito e a canção cuja letra me orientava em encontros com pessoas tristes;
Zé Kéti e outra letra, que eu costumava cantarolar, em momentos oportunos, para minhas namoradas adolescentes;
Euclides da Cunha
e a mais bela página da literatura brasileira;
Guimarães Rosa ficou para sempre com o romance Grande Sertão, Veredas e os contos de Sagarana. O romance..., levei trinta anos para lê-lo como deveria, isto é, palavra por palavra. Sagarana é releitura que se repete com freqüência, talvez pela intimidade que tenho com os sertões e o agreste de Minas Gerais;
Fernando Pessoa e o mar português;
Carlos Drummnd de Andrade. Descobri uns versos de Drummond que seriam, com certeza, uma resposta a outros de Fernando Pessoa. ... E um poema único, sobre a mulher que chovia;
Inês Pedrosa é uma descoberta recente. Transcrevo dois curtos parágrafos que me levaram a ler vários de seus livros;
Ingrid Borinski, há trinta anos, presenteou-me com sua tradução de Herzstück (Peça do Coração em Um Ato), de Heiner Müller. Uma jóia humorística que é pouco ou quase nada conhecida no Brasil, embora tenha sido traduzida para uma dezena de idiomas;
Ivan Lins. Ao me recuperar de um prolongada depressão, seus versos me mostraram “que a vida pode ser maravilhosa”;
O Cristo Carpinteiro, de autor desconhecido. A frase mais terrível que já lí!
Marcel Proust e John Ruskin. Minhas conexões com ambos e entre eles;
Fernanda Schnoor. Restaram alguns poemas, um breve texto e um postal com a letra da música “A little Kiss each morning”;
John Keats não me passou desapercebido. Lí o longo poema Endymion, mas minha homenagem é feita pela transcrição do primeiro verso (um dos mais belos e famosos da língua inglesa);
Wolfgang von Göethe escreveu uns versos que compunham um mandamento para os estudantes de geologia da Universidade de Viena. Arrisquei uma tradução;
Hector Bianciotti, que me mostrou a diferença entre “l’oiseau” e “el pájaro”;
Manoel Bandeira ficou-me inesquecível com sua Passárgada. Quantas vezes eu recitei aqueles quatro versos!!!;
Paulo Mendes Campos. Um vício. É um dos dois autores de quem li toda a obra. Algumas delas ainda em minha mesa de cabeceira;
Oscar Wilde é o outro. Também sempre à mão;
Eduardo Galeano foi leitura obrigatória dos anos 1970. Contestador das injustiças sofridas pelos atormentados povos dos terceiro e quarto mundos. Impossível de resumí-lo. Leiam-no todo. Menciono apenas quatro ditos de um lado seu de humor oportuno. Gostaria de ter escrito essas frases;
Kurt Gödel é aqui acompanhado por Douglas Hofstadter. Gödel, com seu Teorema da Incomplitude, derrubou os alicerces lógicos da colossal obra de Bertrand Russel e Alfred Withehead – Principia Mathematica. Esse teorema hyper-complexo passou a ser accessível ao entendimento do leitor curioso através do livro de Hofstadter – Gödel, Escher & Bach, talvez o livro, livro não, o compêndio mais “rico” que já li. Sempre à mão para consultas constantes;
Edgar Alan Poe e a descoberta de Lenore;
Gilgamesh. Vai e volta, releio o trecho dessa epopéia, o mais antigo texto impresso que se tem notícia. Também ousei levantar a possibilidade de a história desse herói ter influenciado Guimarães Rosa em sua outra epopéia, o Grande Sertão, Veredas;
Pérola Akerman, arquiteta, psicóloga e filosófa, estava inspiradíssima quando conseguiu a proeza de resumir grande parte do ensinamento de Jacques Lacan em um único poema;
Ligia Karam
, que sempre soube transformar os ditos em feitos e fatos;
Félix Arver, o poeta de um único poema, dos mais famosos do romantismo francês do séc. XIX;
Muhamad Ali e o mais curto poema da língua inglesa. Quatro letras em duas palavras;
Pablo Neruda
e os dois de seus poemas mais famosos dos Anos Dourados do Rio de Janeiro;
Axel Munthe. Para saber do impacto em se avistar uma fada, leiam o trecho de o Livro de San Michele;
Rainer Maria Rilke e os três versos que me foram segredados por Ieda Inda, .... e foi o fim de um affair;
Robert Frost. Um verso bastante conhecido do poema The Road not taken,  ajudou-me quando tomei a difícil decisão de ir trabalhar na Guiné Bissau;
Jehovah e o mais universal dos ditos do mais famoso mito da civilização judáico-cristã;
Jacques Lacan e seu dito ilustrado e intrigante, o Nó Borromeano;
François Villon, poeta alcóolatra, ladrão, assassino, condenado à forca e banido;
Joana Narvaez y yo... Yo que no creo en brujas, pero que las hay, las hay!
Tatiana Weihmann, alvejante do meu niver com presença e palavras;
— Li Po
, poeta do século VIII, e um amor cuja “profundidade” jamais foi igualada;
— T.S. Eliot
e seus gatos;
— Isaac Asimov.
O autor mais prolífico de todos os tempos. Um monumento. Publicou 515 livros. Li 77 (ainda em minha estante);
Ezra Pound. Um mestre. A mais precisa e concisa definição de poesia que conheço;
Thomas Friedeman. Uma alegoria de uma tribo africana que resume a vida atribulada e competitiva do mundo globalizado; 
A Segunda Lei da Termodinâmica / Entropia - Uma atração fatal;
Ditos de Maria Antônia, irmã e minha primeira tutora literária;
de sobra, Poesias de Luis Alfredo e, com entrada separada
Maria e José…Nunca Mais!!!
Júlio Machado, poeta íssimo, e seu bem dito soneto;
—  Roberto Camporal García e a mais bela canção de amor e morte jamais composta;
Otávio do Rêgo Macedo, que me deu de presente o mais singelo poema sobre a amizade, de Vinicius de Moraes... e outras histórias;

Hoje 18 de janeiro de 2011, ainda faltam: Ligia, Lara, Maria Vitória, James Joyce, Lawrence Durrel, Jack Kerouac, Paul Géraldy, Jacques Prevert, Federico Garcia Lorca, Vladmir Maiakovski, Friedrich Nietzsche, Ferreira Gullar, François Villon, Garcilaso de la Vega, Bertrand Russel,  e mais…
***

Hermes Augusto Verner Inda (1941-2005)

hernes 2

9 de Outubro de 2005… o telefone toca… e toca… toca…, Eu sabia que era Pedro avisando do falecimento de seu pai, Havia falado um dia antes com ele. quando soube que o Hermes havia sido re-internado em uma hospital de Porto Alegre, em uma recaida logo após ter tido alta de uma pneumonia grave. Sua mãe, Dona Iolanda, falecera na antevéspera e no mesmo hospital. Antecipando um evento probabilísticamente quase impossível, mãe filho combinaram: Disseram: – Eu e você vamos partir sem que um saiba da morte do outro. E foi assim que eu também morri um pouco naquele dia.

Sua irmã, Ieda Inda, recém enviou-me um mail, abaixo transcrito,  contando um pouco do Hermes em seu contexto familiar e frisando o quanto essa herança contribuiu para seu desenvolvimento humanístico e dele fez essa pessoa capaz, como nenhuma outra, em captar e se envolver com o maravilhoso das coisas e pessoas de seu entorno.

Hesitei bastante antes de acrescentar outra correção ao texto sobre meu irmão. Mas creio que devo à memória do Hermes, e especialmente à memória de nossos pais, uma imagem mais Iedaverdadeira. Refiro-me expressão “família humilde” que, receio, talvez possa remeter ao mito romântico em voga, do homem que se faz sozinho contra tudo e todos, filho de pais camponeses ou operários, “nascidos analfabetos”. Nossos pais com certeza nasceram analfabetos, mas Galileu, nosso pai, foi jornalista na juventude, e a mãe Iolanda (Ioiô, para os íntimos) estudou num excelente colégio de freiras alemãs, dedicando-se particularmente ao estudo do piano e violino. Eles casaram num período de relativa estabilidade financeira, mas logo iniciaram uma vida familiar que pode ser descrita como uma dramática alternância de “vacas muito magras” e “vacas meio gordinhas”. Em termos sócio-econômicos, uma trajetória em dentes de serra, gangorra ou montanha russa. Passamos por sérias dificuldades financeiras principalmente durante a primeira infância e no momento de ingressar na Universidade.

    Mas quanto à oportunidade de educação e crescimento cultural, nossa irmã Acmene, Hermes e eu fomos privilegiados.  Nossos pais, espíritos corajosos, lúcidos e independentes, acreditavam na busca do conhecimento e amavam as artes e a literatura, com preferência pelos clássicos. Não se empenharam em acumular bens e construir um patrimônio material para nos deixar como herança, como tantos outros pais. Em troca, fizeram quase o impossível para nos dar o que se costuma chamar uma educação renascentista. O aprendizado não era limitado ao que as escolas, também excelentes, ofereciam. Igualmente importante era aprender a nadar, montar a cavalo, atirar, caçar, pescar, lutar, andar de bicicleta e patins, dirigir veículos, cozinhar, costurar, tecer lã, lavar e passar roupa, desenhar e pintar, fotografar, praticar esportes, dançar, cantar, tocar algum instrumento musical, cuidar dos cães e gatos, criar peixes, limpar e arrumar a casa, cultivar horta e jardim, depenar e preparar perdizes, escamar e fritar lambaris, e outros desafios que mal recordo.

                Conseguimos adquirir algumas dessas habilidades. Hermes não conseguiu aprender a jogar futebol, mas distinguiu-se em natação, basquete e atletismo. Um desastre como dançarino, conquistou com brilho seu brevet de piloto civil. Mas o essencial, em nosso exigente currículo, era aprender a suportar a adversidade sem muita choradeira e não deixar de abraçar cada inocente instantezinho de alegria, não dando excessiva importância ao que diriam no bairro. Não nos faltaram belos instantes, como não faltaram amor, apoio, inspiração e estímulo na família. Resumindo, fomos muito bem preparados para lutar e buscar livremente a independência, o conhecimento e, na medida do possível, a felicidade.

                Hermes fez com raro altruísmo e talento próprios seu excepcional caminho, mas com certeza seria o último a esquecer o crédito devido à própria origem.

Ieda Inda, 14/4/2012

***

O texto abaixo, retirado do Boletim Interno do Serviço Geológico do Brasil – CPRM, ano 2, p.1-2, n.52, 26 de outubro de 2005, foi produzido por diversos amigos e colegas do geólogo Hermes Inda, que tiveram o privilégio de seu convívio;

“Hermes Inda - A história de um geocientista visionário”

Hermes Augusto Verner Inda faleceu precocemente no dia 9 de outubro em Porto Alegre, vitimado por uma pneumonia. Deixa na lembrança de todos aqueles que o conheceram a figura humana ímpar, dotada de uma personalidade única, diante da qual ninguém ficava indiferente. Inteligência rara e humor refinado convivendo em perfeita harmonia, embasados em uma vasta cultura, faziam dele uma pessoa cativante.
Foi sua a concepção - inédita então no Brasil e contemporânea com alguns outros poucos serviços geológicos - de utilizar o conhecimento geológico e hidrológico para gerar informações básicas visando subsidiar as políticas públicas de gestão territorial e de meio ambiente.
Mestre não só na arte de conceber novos programas institucionais, bem como de propor o desenvolvimento de novas tecnologias, sabia como ninguém criar as correspondentes marcas e dísticos: LETOS. Singre, Proteger, Vida, Seus, Siga, SIR, Gate, Cieg, CDI, Geólogo Documentalista, Tecnologia de Soluções e muitas outras.
Diplomado em 1966, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, passou a maior parte de sua vida profissional entre a Bahia e o Rio de Janeiro.
De 1966 a 1975, trabalhou na Prospec SA, executando serviços de cartografia geológica e de pesquisa mineral para o DNPM, CPRM, Eletrobrás e Secretaria de Minas e Energia (SME/BA).
De 1976 a 1983, passou a efetuar serviços para a CBPM, SME/BA, Mineropara e DRM-RJ, através de consultoria, participando ainda de diversas instituições técnico-científicas como SBG, IUGS, entre outras. Foi o criador e editor da revista Ciências da Terra, período em que consolidou um dos seus vários pendores, o de editor de publicações geocientíficas. Como tal, foi o responsável por inúmeras publicações de textos e mapas, sendo, também, o criador de várias séries: Geologia e Recursos Minerais do Estado da Bahia - Textos Básicos, Programa de Edições Técnicas do Estado da Bahia, Programa Geocronológico do Estado da Bahia e o Programa Cartografia Geológica do Estado da Bahia, culminando com a criação e coordenação do Grupo de Projetos Especiais da SME/BA (GPE).
Como assessor especial da SME/BA, entre 1983 e 1985, calçou o seu conhecimento com incursões profícuas na área da informática aplicada às geociências, como coordenador da Comissão Organizadora do Simpósio Cogeodata/ Unesco sobre modelagem de depósitos
minerais; representante do Brasil no Simpósio Internacional da ONU sobre Informática Geológica; elaboração do Projeto de Capacitação Técnica para a Área de Inteligência Artificial e de Sistemas Especialistas na área de exploração mineral; elaboração e implantação do Projeto de Capacitação Técnica e Desenvolvimento de Tecnologia de Cartografia Digital e Geoprocessamento aplicados à pesquisa geológica; concepção, criação e implantação do Sistema de Bibliogafia e Documentação em Geologia e Tecnologia Mineral; concepção, criação e implantação do primeiro banco de dados nacional de grande porte de informações geológicas básicas; implantação do serviço de acesso online às bases de dados geológicos internacionais; e concepção, criação e coordenação do Serviço de Informática (Sisme) da SME/BA, além de ser responsável pela elaboração do primeiro Plano
Diretor de Informática da mesma Secretaria. Entre 1985 e 1994, na CPRM, foi diretor da Área de Operações (1985 -1990) e diretor de Geologia e Recursos Hídricos (1990-1994), período em que atingiu o ápice de sua carreira, sendo o responsável por boa parte das propostas inovadoras e de utilização de novas tecnologias. Nesse período, foi o condutor da retomada dos levantamentos geológicos básicos, através do Programa de Levantamentos Geológicos Básicos (PLGB), executado pela CPRM para o DNPM. Foi também responsável
pelo fortalecimento da Biblioteca da CPRM, mediante a concepção e implantação do Serviço de Atendimento aos Usuários (Seus) e da atividade de geólogo documentalista. Foi, ainda, responsável pela implantação e disseminação da microinformática na CPRM, em meados da década de 80, criando os Centros Distribuídos de Informática (CDIs), nas Superintendências Regionais da CPRM.
Em suas várias contribuições para o avanço do Serviço Geológico do Brasil, Hermes Inda propôs a consolidação, modelagem e organização em bases de dados do vasto acervo de dados geológicos existente na CPRM. Vislumbrando a disponibilização futura desse acervo digital, fez a CPRM se tornar uma das primeiras instituições brasileiras a ter implantado e disponibilizado internamente o acesso à Bitnet e à Internet, quando só existiam três ou quatro serviços geológicos, de países desenvolvidos, com essa facilidade instalada.

Na sua proposição de adoção da cartografia digital na CPRM, foi executado um trabalho pioneiro de adoção do conceito de topologia nos serviços prestados para a Secretaria Federal de Recursos Hídricos, de digitalização de drenagens, no âmbito do Programa Nacional de Irrigação (Proni). No final da década de 80, a CPRM foi a instituição precursora na utilização da tecnologia de Sistema de Informações Geográficas (SIG) em várias aplicações, dentre as quais sobressai a geração de mapas digitais de plantas da infra-estrutura urbana, voltada para a sua gestão, através do projeto desenvolvido para a Secretaria de Vias Públicas da Prefei tura de São Paulo – Projeto (Siga/SVP). Foi também o condutor da proposição e desenvolvimento do primeiro SIG no Brasil em ambiente de computador de grande porte. Ademais, foi a segunda instituição brasileira, em 1993, a desenvolver e gerar um CD-ROM – tecnologia incipiente à época - contendo bases de dados geológicos e um aplicativo MicroSiga para o acesso e a pesquisa de dados. A primeira a fazê-lo foi uma instituição privada da área da saúde.
Essas façanhas serviram para consolidar as atividades de geoprocessamento na CPRM e alçar a empresa à vanguarda da tecnologia, fazendo com que a IBM buscasse a sua parceria para efetuar projetos em conjunto. Foi dele então a proposta de implantar um showroom, no final da década de 80, que serviu para a apresentação, a visitantes e parceiros, das últimas novidades de geoprocessamento e informática desenvolvidas pela CPRM.
Transcendendo os limites da geologia clássica, foi o grande idealizador, entusiasta e precursor das atividades que hoje são utilizadas para subsidiar o ordenamento do território, mediante a concepção e implantação do Programa Gate, voltado para o levantamento de informações geológicas e hidrológicas básicas, e sua integração com outros temas, para apoio à decisão na gestão territorial e do meio ambiente.
Foi ainda o responsável pela transformação das atividades de editoração de relatórios e mapas da CPRM, mediante a sua racionalização e modernização, padronizando os procedimentos e conferindo-lhes um cunho altamente profissional.
De volta à sua terra adotiva – Bahia – utilizou a sua longa experiência para prestar diversos serviços à Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM) e à SME/BA, visando a organização e disponibilização das informações geradas pelas diversas atividades da empresa, bem como o suporte à concepção e manutenção do Sistema de Informações sobre os Municípios da Bahia (Simba) em apoio às atividades da Assessoria da Secretaria Particular do governador da Bahia.

Todo esse rico legado de inovações e de realizações se deve ao fato de ele ter sido uma dessas raras pessoas que têm o olhar fixado no horizonte, tentando enxergar hoje o mundo de amanhã, buscando olhar além dos limites da geologia. Era um autêntico geocientista e um Visionário.
.

***

Abaixo, a homenagem póstuma de Carlos Oiti Berbert, escrita mo dia seguinte do falecimento do Hermes. Hermes era Diretor da CPRM quando Oiti ocupava a Presidência, creio que entre 1990 e 1999,

Em: http://vsites.unb.br/ig/informes_antigos.htm#Falecimento_INDA
Enviada por Carlos Oití Berbert em 10 de outubro de 2005, às 11:45 hs.
Caros colegas e amigos,
Lamento informar que o Brasil perdeu ontem, em Porto Alegre, motivado por infecção hospitalar, um dos grandes geólogos brasileiros e uma das mentes mais brilhantes que conheci em minha vida, com quem tive o privilégio de compartilhar, por cerca de cinco anos, a direção da CPRM na década de 90: HERMES AUGUSTO VERNER INDA. Graças à sua visão de futuro, numa época bastante difícil, e com os demais Diretores, pudemos introduzir várias inovações que contribuíram para a transfomração da empresa no Serviço Geológico do Brasil, em dezembro de 1994, entre elas a então denominada Geologia Social, o Gestão e Administração Territorial - GATE e os programas avançados (para a época) de computação geocientífica. Em função de seu empenho particular, houve, ainda, um esforço bastante grande de formação e especialização de pessoal, particularmente em cursos de mestrado e doutorado.
A pedido de seu filho Pedro (51 - 3226 5562. 9115 1058 ) informo que o corpo de Hermes será cremado hoje, às 17:00 h na Capela Ecumênica Metropolitana de Porto Alegre e a cerimônia poderá ser acompanhada no endereço www.crematoriometropolitano.com.br

***

(*) Neste blog, a íntegra de um artigo publicado em co-autoria com o Hermes – Fundamentos da Geologia Pós-Moderna

(**) Breve falarei muito mais do Hermes. Dos três anos que convivemos na Prospec (1972-1975), em Petrópolis, do tempo em que era Diretor da CPRM, e eu consultor intermitente em 1988/89, 1991/92/93 e quando ele ocupava uma assessoria especial do então Governador Paulo Souto, entre 1995 e 2000, em Salvador.  Nossa conexão era perene, no escritório, em trabalhos de campo, nos bares e em sua residência (Petrópolis, Salvador e Urca), Aí. a madrugada nos atravessava acompanhada  de sua imensa coleção musical, que ia do trovador nordestino e passava pelo popular e clássico universais. E a trigada fazia parte do repertório (receita do caudilho João Batista Lusardo, de Uruguaiana,  e conhecido pelos argentinos como  Hombre de la Guerra). E as doses intermináveis de uisque regavam os sons e papos e paladares e gargalhadas. Com Hermes fui “iniciado” em Isaac Asimov, Mafalda, Violeta Parra e Mercedes Sosa, o Ulysses de James Joice, o Grande Sertão, Veredas, de Guimarães Rosa… e muito mais.  Ieda teve um papel presente e muito ativo durante esse meu aprendizado, desde o agreste baiano até as mansardas do Cremerie.

Depois eu conto!

Monumento a D. Pedro I – Praça Tiradentes – Os Dragões de Bel e Chicão

Em 1973, o geólogo Roberto Thompson de Carvalho (Bel) e seu amigo garimpeiro, Chicão, foram até a sede da Prospec S/A, em Petrópolis, onde eu trabalhava, e contaram duas histórias fantásticas (1). A que aqui vou resumir, conta sobre uma peculiaridade dos quatro dragões da estátua de D. Pedro I, erguida em 1862 na Praça Tiradentes (*), Rio de Janeiro. A peculiaridade? Os dragões são de OURO.

Chicão apresentou uma cópia microfilmada de atas de reunião da Câmara dos Deputados do antigo Distrito Federal (**), onde se discutia a necessidade de  substituição dos dragões por réplicas e reposição dos originais em um museu. Lembro-me de ter ouvido que o assunto foi debatido brevemente em plenário durante dois dias consecutivos, mas não me recordo das datas. Chicão recitava o texto de forma inflamada, chamando a atenção para três pontos: primeiro, que foi apresentado uma prova irrefutável da composição química das quatro pequenas esculturas – ouro; segundo, que as esculturas não eram folheadas a ouro e nem maciças, sendo ocas, mas nada foi relatado sobre a espessura da camada de ouro (2); terceiro, que nenhum deputado revelou qualquer espanto, parecendo que estavam mais preocupados em selecionar um escultor para as réplicas.

Como nunca havia prestado a devida atenção, dias depois fui  olhar o monumento, pode-se dizer, pela primeira vez. O pedestal e as esculturas, D. Pedro a cavalo e as quatro alegorias em volta, todas de bronze, estavam totalmente patinadas (o bronze é uma liga metálica com 67% Cu e 33% Zn, e a pátina resulta de sua oxidação, sendo composta essencialmente por carbonato e sulfato de cobre, de cor verde). A coroa real entre os dragões também é de  ouro, permanecendo com a cor amarela.

Um fato ficou claro. Somente um metal de cor amarela resiste tanto tempo (século e meio) em um clima tropical sem sofrer corrosão e oxidação. Esse metal é o Ouro.

A sequência de eventos interrompidos, entre 1973 e 1974, é marcada por um clima de conspiração, a portas fechadas. Esboçávamos planos para roubar os dragões. Havia duas variantes. Uma compreendia um “apagão” e os dragões seriam retirados de noite. O Bel chegou a identificar um funcionário da Light que garantira ter condições de executar essa parte. A outra variante consistia em se forjar uma “limpeza da estátua”, levantando-se tapumes em torno do monumento em pleno dia. Essa era mais elegante, mas era de um risco acovardante. Para ambas, Chicão afirmava que um pequeno gerador seria suficiente para movimentar uma pequena serra que lembraria a “maquita” que hoje é utilizada no corte de lajotas para pisos e revestimentos (granito, mármore, etc.). O ouro, sendo muito mais macio do que rocha, iria garantir o sucesso do corte.

…e nossa aventura acabou! Valeu pelo lúdico. Por um tempo, atuávamos como três personagens de uma comédia italiana, mas seríssimos. Tempos depois, ao lembrar, eu e Bel demos boas gargalhadas.

Porém, como tal matéria “morreu” na Câmara? É bastante possível que essas reuniões tenham se dado às vésperas da transformação do Distrito Federal  em Estado da Guanabara, digamos, em 1959. Com a mudança para Brasília, em 1960, as prioridades passaram a ser outras. As antigas atas ou foram arquivadas e esquecidas, ou perdidas e enterradas junto com o antigo Distrito Federal. O Rio passou a Estado e o resto virou passado remoto e esquecido. Somente um garimpeiro do calibre do Chicão para desencavar esse ouro com sua bateia histórica! O Bel, que assina este texto, garimpando o garimpado, chegou a tempo de resgatar e tentar reavivar o que hoje seria um segredo desconhecido.

Ambos devem estar sorrindo.

***

 

Praça Tiradentes Geral
O monumento a D. Pedro I, inaugurado em 30/03/1862, com a presença de D. Pedro II, foi esculpido e fundido em bronze na França por Louis Rochet e seu estagiário, o famoso escultor Auguste Rodin. Foi o primeiro erguido na cidade, e é o maior da América Latina. Em 1865 inseriram-se alegorias que representam as quatro virtudes das nações modernas: Justiça, Liberdade, Igualdade e Fidelidade, simbolizadas pelos índios dos rios Amazonas, Madeira, São Francisco e Paraná. Os moldes em gesso doram esculpidos pelo artista Miguel Couto dos Santos .
(O projeto original do conjunto escultório é de João Maximiniano Mafra. O gradil em bronze é do artista  Miguel Couto dos Santos Mafra, que recebeu medalha de ouro na Academia de Belas Artes pelo trabalho.  Foto da face leste, vendo-se a alegoria do rio Amazonas no centro, do rio Madeira à esquerda e do rio São Francisco à direita. Restauração de 2005-2006)

 
 

Os dois dragões

 
 

As armas de Bragança, em bronze, vigiadas por dois dragões de ouro.
A cor amarela dos dragões e da coroa persistindo por século e meio (3)

 
 

Dragão detalhe

 
 

Detalhe de um dos dragões

 

_____________

Obs. 1 –  A outra história em narrada neste blog em O Tesouro de Tiradentes.

Obs. 1  –  Como o ouro é “mole”, estima-se que um mínimo de 1 cm de espessura da camada da escultura oca, seria suficiente para que ela se sustentasse sem deformar. Os quatro dragões pesariam cerca de 30 kg, o que equivale a mais de um milhão de dólares (valor em julho de 2011).

Obs. 2 – A foto dos dois dragões é de André Mendonça.

Notas:

(*) “O Largo do Rossio Grande, depois Campo dos Ciganos, em 1747 passou a ser o Campo da Lampadosa, em 1808 passou para Campo do Polé, depois de 1822 foi a Praça da Constituição e finalmente Praça Tiradentes em 1890. Praça de muitos nomes e muitos moradores ilustres, como José Bonifácio de Andrada e Silva que residiu na esquina com a Avenida Passos, onde D. Pedro I gostava de despachar. Foi um lugar de boemia, que começou com os bailes do Visconde do Ouro Seco em seu Solar e se mantém na Estudantina, a mais autêntica gafieira do Rio de Janeiro, onde os cariocas continuam a fazer a festa” (in Marcílio).

Em artigo de O Globo (8/8/2011), Ludmila Lima lembra que a praça foi chamada de Constituição “porque foi lá, da varanda do Real Theatro de São João, hoje João Caetano, que D. Pedro fez o juramento à constituição portuguesa em 1821”.

(**) Os limites do atual município do Rio de Janeiro são os mesmos dos antigos Distrito Federal (1891-1960) e Estado da Guanabara (1960-1975).

(***) “A descrição do monumento, que se ergue ao centro da Praça Tiradentes, pode ser assim resumida: – Sobre um soco de cantaria, vê-se um elegante gradil de ferro, imitando o bronze e apresentando, entre círculos e alternadamente, a coroa imperial e a legenda Pedro I, em letras de ouro; é de forma octogonal; em cada ângulo eleva-se uma coluna artisticamente ornada, que sustenta um lampião de gás, encimado por uma coroa. Nas bases dessas colunas estão gravadas as seguintes datas: 12 de outubro de 1798 – 6 de novembro de 1817 – 17 de outubro de 1829 – 9 de janeiro de 1822 – 13 de maio de 1822 – 12 de outubro de 1822 – 1 de dezembro de 1822 – 25 de março de 1824.

O espaço cercado pelo gradil é pavimentado de mármore. Sobre uma base de granito ergue-se o pedestal, que é octógono e de bronze, assim como todo o monumento. Vestem as suas faces principais quatro alegorias indígenas, simbolizando os rios Amazonas, Paraná, Madeira e São Francisco. Este é representado por um índio, que está sentado junto a um tamanduá bandeira e uma capivara. Outro índio, o do rio Madeira, está armado de arco e em atitude de disparar uma flecha, vendo-se, ao seu lado, uma tartaruga, uma ave e alguns peixes. Os rios Amazonas e o Paraná são representados, cada um, por duas figuras, sendo uma do sexo masculino e outra do sexo feminino. A silvícola do rio Amazonas tem sobre as costas uma criança adormecida. Seu companheiro descansa o pé sobre um jacaré, havendo, ao seu lado, uma jibóia, um tigre, um ouriço-caixeiro e uma ave. No grupo que simboliza o rio Paraná vêem-se um tapirete ou anta, um tatu e duas grandes aves.

Ornam o friso do pedestal escudos torreados, significando as vinte províncias do Brasil, e sobre cada um dos quais existe uma estrela dourada. Na parte superior da face principal estão as armas do Império e a seguinte inscrição: – A D. Pedro Primeiro, Gratidão dos Brasileiros. Nas faces laterais, as armas bragantinas, vigiadas por dragões dourados. Finalmente, sobre o pedestal ergue-se o vulto do monarca, em grande uniforme de general, montado a cavalo, tendo o braço direito alçado, num gesto de quem apresenta ao mundo o auto da independência do Brasil.

A altura do monumento – o primeiro inaugurado no Rio – é de 3 metros e 30 centímetros até o alto da cantaria; 6 metros e 40 centímetros, até o alto da cornija; medindo 6 metros a estátua eqüestre e seu plinto. O peso total do bronze é de 55.000 quilos, sendo: 28.000 quilos todo o pedestal; 12.080 quilos a estátua eqüestre; 10.000 quilos os dois grupos alegóricos grandes e 5.000 quilos os dois pequenos.” (Notar que não há referência aos dragões).

Publicado na edição de 5 de setembro de 1943 do jornal Diário de Notícias; [DN1946] Reportagens, Monumentos da Cidade, Ed.1946. (in Rememorarte)

 

***

Luiz Magalhães

LulaEsse arquiteto, publicitário, designer famoso (1), muito elegante e pouco esfusiante, proporcionou-me a descoberta de uma outra América, através da divulgação na Internrt do documentário de João Moreira Sales. Lula gravou a série televisada em 1989, recuperando-a em 2010. Por limitação do YouTube, só foi possível postá-la em 4 partes (assistir abaixo). 
Outra preciosidade preservada por Lula, é o texto publicado pela Companhia das Letras (3), onde estão condensadas as 110 horas de gravação de 27 celebridades expondo seus diferentes pontos de vista sobre a América.
 
São eles: B. F. Skinner, Czeslaw Mislov, David Byrne, David Rockefeller, Denise Scott Brown, Dennis Hopper, Henry Kissinger, James Ellroy, Jean Baudrillard, Joseph Brodsky, Laurie Anderson, Louis Stettner, Marion Zimmer Bradley, Nolam Chomsky, Nolan Bushnell, Octavio Paz, Paul Virilio, Robert Frank, Robert Longo, Robert Rauschenberg, Robert Venturi, Stan Lee, Timothy Leary, Tom Hayden,  William Kennedy, William Klein, Zbigniew Rybczynski.

***

AMÉRICA – De João Moreira Sales. VideoFilmes Produções Artísticas Ltda, 1989. (Originalmente, a série televisada pela TV Manchete compreendia 5 partes). (2)

Parte 1

Parte 2

Parte 3

Parte 4

***

(1) “ […] Luiz Magalhães, dono da LM Grupo Design, traz em sua galeria vários prêmios na área de design, atividade a que se dedica há 22 anos. Entre eles, destaque para POPAI USA e POP TIMES USA […]. Rev. Rio Grande, seção Mercados, pg. 56, 2010.
 
(2)  "Existia uma série, não exatamente um filme, chamado América, de João Moreira Salles, de 1989, exibido na extinta TV Manchete. Era uma série excelente, rodada nos Estados Unidos e nos seus 5 programas abordava uma série de aspectos do país: a idéia de clonagem, fisiculturismo, a velocidade, um país em deslocamento, o blues etc. Rapaz, quando eu assisti isso na TV decidi fazer documentários na minha vida. Saí de Belo Horizonte onde assisti à essa série, me mudei para Campinas, depois para São Paulo e trabalho com imagens até hoje. Foi a partir dali que virei cineasta."
Kiko Goifman, in http://revistatrip.uol.com.br/so-no-site/mudou-minha-vida/kiko-goifman.html
 
(3) “América – Depoimentos”. Companhia das Letras, 1989. Tive sorte de encontrar um exemplar na Livraria Papirus (Sebo) https://www.sebopapirus.com.br/

***

Lara Moutinho da Costa (1966- )

 

Lenore Moutinho da Costa (1965- )

 

O Tesouro de Tiradentes (dos Inconfidentes)

Em 1973, o geólogo Roberto Thompson de Carvalho (Bel) e seu amigo garimpeiro, Chicão, foram até a sede da Prospec S/A em Petrópolis, onde eu trabalhava, e contaram duas histórias fantásticas (1). A que vou resumir abaixo trata do provável reconhecimento do local onde se encontraria o que Chicão chamava de Tesouro de Tiradentes, ou dos Inconfidentes (3).

Chicão era um garimpeiro de diamantes da região de Diamantina (MG), mas que tinha como hobby caçar tesouros com seu detector de metais (2), Chegou a encontrar moedas de valor, escondidas sob o assoalho de madeira de casarios coloniais, e algumas pepitas de ouro e objetos metálicos sob o solo (chaves, pulseiras, brincos, correntes, ferraduras, esporas, pregos, etc.). Sua obsessão, contudo, era descobrir determinado tesouro. Esse tesouro não faz parte de lenda, folklore ou história transmitida oralmente por sucessivas gerações. Não! É uma teoria desenvolvida por ele: Tiradentes conseguiu desviar parte do ouro recolhido como dízimo da mineração da rica região de Ouro Preto, escondendo-o em uma gruta situada na escarpa da Serra do Ouro Branco.

Joaquim José da Silva Xavier foi tropeiro, minerador, e dentista (daí o seu apelido). Em 1775 entrou para a Milícia de Minas Gerais, época em que se transferiu para a capital da província, em Vila Rica de Ouro Preto (Televan).

Já lider dos Inconfidentes (3) e como Alferes, Tiradentes mantinha contato com os coletores locais do dízimo, que era então levado pelo Caminho Real até o Rio de Janeiro. Essa rota passava por Ouro Branco, uma das paradas obrigatórias para que a coleta fosse inventariada e registrada.

Para sustentar sua tese, Chicão apresenta alguns fatos pertinentes e bastante interessantes. Ressalta que confrontou registros históricos de valores e quantidade de saída do dízimo em Ouro Preto e da correspondente entrada nos livros em Ouro Branco. Os dados não se igualavam, a entrada sendo sempre menor do que a coleta original. Esse foi o pulo para concluir o óbvio. Parte do ouro estava sendo desviado… e escondido para criar fundos que sustentassem a sonhada revolução dos Inconfidentes. Após décadas de pesquisa e elucubrações, Chicão concluiu que o ouro era colocado em grutas da encosta da Serra do Ouro Branco. Um escravo era alçado por cordas a partir do topo da serra e descia ao longo de uma escarpa negativa (invertida), tal qual o Rapel praticado hoje (4).  Ao atingir o local, balançava-se até atingir o ponto de pular para dentro da caverna. A corda era em seguida recolhida e o escravo alí padecia até a morte, ou a abreviava pulando morro abaixo.

Sobre a localização da gruta, o Bel conta que ela estaria situada no sentido ENE de uma visada a partir da entrada da cidade de Ouro Branco, na estrada de Ouro Preto. Era visível de binóculo. Na imagem da figura abaixo eu situei a zona com base nessa direção e após ter verificado que, alem de ser um dos locais mais concorridos por praticantes de Rapel (Rappel), o local apresenta grutas em escarpas invertidas (negativas).

Na época cheguei a conversar com os dirigentes da Prospec, o Presidente Renato Archer e o Diretor Silvio Guedes, e tambem com Marcelo Tunes, colega de turma do Bel, que era assessor. Queríamos um helicóptero da empresa para fazer um vôo de reconhecimento e fundos para financiar uma campanha de investigação em algumas cavernas. Eles ouviram com muita atenção e, já esperado, riram. Sem debochar, mas riram.

Agora, 40 anos depois, resolvi voltar ao assunto e tentar conseguir meios suficientes para, pelo menos, chegar mais perto do tesouro. Mathilde Thompson, que é “filha do pai” irá encarná-lo nessa aventura.

  Ouro Branco Serra Gruta Mapa  
  Serra do Ouro Branco e a cidade. Infelizmente a imagem (Google Earth) apresenta nuvens no entorno do local aproximado da possível gruta. A estrada logo abaixo, que liga Ouro Branco a Ouro Preto, é vizinha do antigo “Caminho Real”.  

***

Observações

(1) –  A outra história é descrita neste blog em Estátua de D. Pedro I – Praça Tiradentes

(2) –  Detector de Metais

  Detector de Metais  
 

Equipamento portátil, extremamente leve (1 kg), e utilizado para localizar todos os tipos de metais, ligas metálicas, e alguns minérios e minerais enterrado a profundidades de até 1,5 m. Funciona a bateria. Detecta pepitas de ouro acima de 15 g. Através de uma bobina de transmissão (arco externo fa figura) uma onda eletro-magnética é mandada para o chaão em determianda frequência. O arco interno contém outra bobina de fio – recepção –  que atua como uma antena para captar e amplificar freqüências vindas de objetos alvo no solo.

 

(3) –  O principal fator que desencadeou a Inconfidência mineira foi o aumento da exploração colonial, através da imposição de taxas excessivas sobre a extração de ouro na região de Minas Gerais. As zonas mais prósperas da mineração compreendiam as vilas de Sabará, Vila Rica (Ouro Preto) e São João del Rei (in Renato Cancian).

 

Libertas

 
  A bandeira dos Inconfidentes – Liberdade ainda que Tardia  

(4) –  Imagens de escarpa negativa (invertida)

 

Rapel Negativo 1

Rapel Negativo 2

 

Escarpa invertida

Escarpa invertida. Essa imagem ilustra como teria sido o balanço do escravo para pular dentro da caverna
 

 

rapel2

rapel1
 

rapel4

 
 

Três fotos de praticantes de Rapel na Serra Do Ouro Branco, sendo as duas superiores com caverna ao fundo.

 
 

in OiJovem.com e Município de Ouro Branco

 

***

François Villon (1431-1463)

FrancoisVillon

François Villon foi uma desses poetas abençoados pela centelha divina, seja por deus ou pelo diabo. Dessas pessoas que deslumbram e que refletem um brilho ofuscante, seja pela sua obra, seja pela sua vida. No caso de Villon, por ambos.

Boêmio e alcóolatra, ladrão, assassino, condenado à forca e banido.

Edward McNall Burns

(in preparation)McNall Burns-a

In trying to get some information about Professor Edward McNall Burns, I wrote first to Donna K Thornton, Vice President for Alumni Relations – Rutgers University, copying to Brian Perillo, Assistant Vice President for Alumni Relations, and Sybil Carroll, Secretarial Assistant, Outreach Programs. Following the email trend below, Miss Erka Gorder, Associate University Archivist and Permissions Coordinator, is “In charge” of answering my research inquiry. Last news dated 13th August 2012. She is the heart and soul of that project.

  From Luis Alfredo 13 July 2012
  To Donna K. Thornton
 

Dear Mrs. Thornton,
Please to meet you.
I am coordinating a group in charge of writing some lines about Professor Edward McNall Burns, which could be posted in the Wikipedia - portuguese version.
Professor Burns is quite "popular" in Brazil. His two volume Western Civilizations was first published in Portuguese in 1949. In 2005, the book reached its 44th edition (co-authored by E. Lerner and S. Meacham).
We got from the WorldCat Identities site (
http://www.worldcat.org/identities/viaf-122237213) the following information: 28 works in 59 publications in 4 languages. I think he has been translated in more than 4 languages.
Except for his bibliography, there is very very few about him in the Internet. I though that some of you from the Rutgers University might help us with some information. The minimum we need are the dates of brth and death of Professor Burns, the period he teached in Rutgers and, most important os all, his photo.
I am copying this email to Brian Perillo, Assistant Vice President for Alumni Relations and to Sybil Carroll, Secretarial Assistant, Outreach Programs
Thanking you very much for any help you might provide, I remain
Sincerely yours

 Luis Alfredo Moutinho da Costa
Geologist, Ph.D

On July 30 th I received the following mail from Miss (Mrs?) Erika Gorder, Archival Associate, Special Collections/University Archives Staff, Special Collections and University Archives

  From Erika Gorder: gorder@rci.rutgers.edu 30 th July 2012
To: Luis Alfredo
lamoutinho@gmail.com
Dear Mr. Luis Alfredo Moutinho da Costa,
Your research inquiry regarding Professor McNall Burns was forwarded through several offices finally to me in the University Archives. We handle all research and reference questions regarding the history of the University and its constituents (including faculty and students). I understand that you are interested in information on Professor Burns. I will take a look and see if we have a biographical file on him, and if not, at the very least there might be a listing of him in the faculty directly.
Because your inquiry went through several iterations, if you would be so kind as to summarize your request again, that would make things clearer for me. My apologies for the inconvenience.
Best regards,
Erika

Wich I promptly replyed in the next day, 31 st July 2012

  To Erika Gorder: gorder@rci.rutgers.edu 31st July 2012
 

Dear Erika,
You letter made my day.
Well, as to summarize my request... I woud say... I need ANYTHNG you have or, even  better, everything you have about the MAN, about the TEACHER... What kind of man was he? I am sure there are records stating that.
I need to know his birth and death dates and a short summarry on his carreer. In which universities did hid he take his degrees? I know he was he married? To whom? And his children... who are they, if any at all?  from your site I got "Edward McNall Burns Memorial Award.  Presented annually to the history major who graduates with the best academic record in this field. The cash award is sponsored by Mrs. Edward McNall Burns in memory of her husband, who was professor of history and professor of political science at Rutgers." Is she sill alive? If not, the prize is still sponsored by the family?
Above all, most of all I need AT LEAST one picture of him. It could be a close up or one  in the classsroom while he was teaching.
Well, Erika, Prof Burns "Histotory of Western Civilization" two tomes is in its 28th edition in Portuguese Language and I suspect that In Spain they have over 10 translated editions.
It will be great to have Prof. Burns in the Wikipedia for portuguese and spanish readers. I am pretty sure that a most merited english version will soon follow up.
Be sure that I will give you the proper cedits for all the help in building up a shor-short biography of Prof. Burns.
Please keep in touch.
Many thanks for all your help
Accept my best reagards,
Luis Alfredo

On August 12 th I was a bit anxious and wrote again to Erika

  From: Luis Alfredo to: Erika Gorder  12th August 2012
 

Dear Erika, I am re-sending the email …, in case you have not received it.
Please, send me ANY news about my research inquiry regarding Prof McNall Burns.Regards
Luis Alfredo

I got a reply on the next day. and decided to wait, no matter how long. Its all up to Erika.

  From Erika Gorder to: Luis Akfredo 13th August 2012
 

Dear Luis Alfredo,
I did receive your email....working on it.  You are asking for lots of different things and I'm afraid we do not have much on him. Therefore this is a research project to dig for as much as possible from multiple sources.  I will let you know when I'm finished.
Best,

Erika

Erika Gorder
Associate University Archivist and Permissions Coordinator
Special Collections and University Archives
Rutgers University Libraries
169 College Avenue
New Brunswick, NJ 08901
848.932.6150

Prólogo

— Introdução —
 
Acontecimentos que marcaram tempos e lugares. Imagens e ditos benditos e benvindos. Vieram de amigos e parentes, escritores, mitos, músicos, poetas, cineastas, cientistas e filósofos.

Arthur Dapieve. José Saramago, ao olhar a bunda de sua mulher, Pilar, inspira Dapieve na mais perfeita e sintética definição de amor. Um compêndio condensado em uma frase;
Sommerset Maughan. O Fio da Navalha foi um livro que só conta por uma citação da folha de rostro que me levou a ler em seguida os Upanishads e o  Bhagavad Gita.
Julio Cortázar e um texto sobre o beijo, que desencoraja qualquer tentação em se escrever algo semelhante;
José Saramago. O mais puro lirismo erótico de uma primeira noite de amor, que se seguiu à mais longa declaração de amor por telefone que alguém já registrou;
Walter Benjamin. Outro olhar, uma outra visão que desmonta os cânones estéticos;
Calderón de La Barca, que afortunadamente intrometeu-se em meu encontro com Aurora em Madrid;
Djavan e os versos que roubei de  para presentear Jocasta;
Alexander Pope e um poeminha que narra o Gênesis da física moderna, um fiat Newton incomparável;
Anna de Noailles, condessa mundana da Belle Époque, e um curto verso de sete palavras que desafia qualquer tradutor da língua francesa;
Gulherme de Brito e a canção cuja letra me orientava em encontros com pessoas tristes;
Zé Kéti e outra letra, que eu costumava cantarolar, em momentos oportunos, para minhas namoradas adolescentes;
— Euclides da Cunha
e a mais bela página da literatura brasileira;
Guimarães Rosa ficou para sempre com o romance Grande Sertão, Veredas e os contos de Sagarana. O romance..., levei trinta anos para lê-lo como deveria, isto é, palavra por palavra. Sagarana é releitura que se repete com freqüência, talvez pela intimidade que tenho com os sertões e o agreste de Minas Gerais;
Fernando Pessoa e o mar português;
Carlos Drummnd de Andrade. Descobri uns versos de Drummond que seriam, com certeza, uma resposta a outros de Fernando Pessoa;
Inês Pedrosa é uma descoberta recente. Transcrevo dois curtos parágrafos que me levaram a ler vários de seus livros;
Ingrid Borinski, há trinta anos, presenteou-me com sua tradução de Herzstück (Peça do Coração em Um Ato), de Heiner Müller. Uma jóia humorística que é pouco ou quase nada conhecida no Brasil, embora tenha sido traduzida para uma dezena de idiomas;
Ivan Lins. Ao me recuperar de um prolongada depressão, seus versos me mostraram “que a vida pode ser maravilhosa”;
O Cristo Carpinteiro, de autor desconhecido. A frase mais terrível que já lí!
Marcel Proust e John Ruskin. Minhas conexões com ambos e entre eles;
Fernanda Schnoor. Restaram alguns poemas, um breve texto e um postal com a letra da música “A little Kiss each morning”;
John Keats não me passou desapercebido. Lí o longo poema Endymion, mas minha homenagem é feita pela transcrição do primeiro verso (um dos mais belos e famosos da língua inglesa);
Wolfgang von Göethe escreveu uns versos que compunham um mandamento para os estudantes de geologia da Universidade de Viena. Arrisquei uma tradução;
Hector Bianciotti, que me mostrou a diferença entre “l’oiseau” e “el pájaro”;
Manoel Bandeira ficou-me inesquecível com sua Passárgada. Quantas vezes eu recitei aqueles quatro versos!!!;
Paulo Mendes Campos. Um vício. É um dos dois autores de quem li toda a obra. Algumas delas ainda em minha mesa de cabeceira;
Oscar Wilde é o outro. Também sempre à mão;
Eduardo Galeano foi leitura obrigatória dos anos 1970. Contestador das injustiças sofridas pelos atormentados povos dos terceiro e quarto mundos. Impossível de resumí-lo. Leiam-no todo. Menciono apenas quatro ditos de um lado seu de humor oportuno. Gostaria de ter escrito essas frases;
Kurt Gödel é aqui acompanhado por Douglas Hofstadter. Gödel, com seu Teorema da Incomplitude, derrubou os alicerces lógicos da colossal obra de Bertrand Russel e Alfred Withehead – Principia Mathematica. Esse teorema hyper-complexo passou a ser accessível ao entendimento do leitor curioso através do livro de Hofstadter – Gödel, Escher & Bach, talvez o livro, livro não, o compêndio mais “rico” que já li. Sempre à mão para consultas constantes;
Edgar Alan Poe e a descoberta de Lenore;
Gilgamesh. Vai e volta, releio o trecho dessa epopéia, o mais antigo texto impresso que se tem notícia. Também ousei levantar a possibilidade de a história desse herói ter influenciado Guimarães Rosa em sua outra epopéia, o Grande Sertão, Veredas;
Pérola Akerman, arquiteta, psicóloga e filosófa, estava inspiradíssima quando conseguiu a proeza de resumir grande parte do ensinamento de Jacques Lacan em um único poema;
— Ligia Karam
, minha mulher, que sempre soube transformar os ditos em feitos e fatos;
Félix Arver, o poeta de um único poema, dos mais famosos do romantismo francês do séc. XIX;
Muhamad Ali e o mais curto poema da língua inglesa. Quatro letras em duas palavras;
— Pablo Neruda
e os dois de seus poemas mais famosos dos Anos Dourados do Rio de Janeiro;
Axel Munthe. Para saber do impacto em se avistar uma fada, leiam o trecho de o Livro de San Michele;
Rainer Maria Rilke e os três versos que me foram segredados por Ieda Inda, porém ela não cumpriu o dito.... e foi o fim de um affair;
Robert Frost. Um verso bastante conhecido do poema The Road not taken,  ajudou-me quando tomei a difícil decisão de ir trabalhar na Guiné Bissau;
Jehovah e o mais universal dos ditos do mais famoso mito da civilização judáico-cristã;
Jacques Lacan e seu dito ilustrado e intrigante, o Nó Borromeano;
François Villon, poeta alcóolatra, ladrão, assassino, condenado à forca e banido;
— Joana Narvaez y yo... Yo que no creo en brujas, pero que las hay, las hay!
Tatiana Weihmann, alvejante do meu niver com presença e palavras;
— Li Po
, poeta do século VIII, e um amor cuja “profundidade” jamais foi igualada;
— T.S. Eliot
e seus gatos;
— Isaac Asimov.
O autor mais prolífico de todos os tempos. Um monumento. Publicou 515 livros. Li 77 (ainda em minha estante);
Ezra Pound. Um mestre. A mais precisa e concisa definição de poesia que conheço;
Thomas Friedeman. Uma alegoria de uma tribo africana que resume a vida atribulada e competitiva do mundo globalizado;— A Segunda Lei da Termodinâmica / Entropia - Uma atração fatal;
Ditos de Maria Antônia, irmã e minha primeira tutora literária;
de sobra, Poesias de Luis Alfredo e, com entrada separada
Maria e José…Nunca Mais!!!

Hoje 18 de janeiro de 2011, ainda faltam: Ligia, Lara, Maria Vitória, James Joyce, Lawrence Durrel, Jack Kerouac, Paul Géraldy, Jacques Prevert, Federico Garcia Lorca, Vladmir Maiakovski, Friedrich Nietzsche, Ferreira Gullar, François Villon, e mais…
***

James Joyce

— Introdução —
Acontecimentos que marcaram tempos e lugares. Imagens e ditos benditos e benvindos. Vieram de amigos e parentes, escritores, mitos, músicos, poetas, cineastas, cientistas e filósofos.

Arthur Dapieve. José Saramago, ao olhar a bunda de sua mulher, Pilar, inspira Dapieve na mais perfeita e sintética definição de amor. Um compêndio condensado em uma frase;
Sommerset Maughan. O Fio da Navalha foi um livro que só conta por uma citação da folha de rostro que me levou a ler em seguida os Upanishads e o  Bhagavad Gita.
Julio Cortázar e um texto sobre o beijo, que desencoraja qualquer tentação em se escrever algo semelhante;
José Saramago. O mais puro lirismo erótico de uma primeira noite de amor, que se seguiu à mais longa declaração de amor por telefone que alguém já registrou;
Walter Benjamin. Outro olhar, uma outra visão que desmonta os cânones estéticos;
Calderón de La Barca, que afortunadamente intrometeu-se em meu encontro com Aurora em Madrid;
Djavan e os versos que roubei de  para presentear Jocasta;
Alexander Pope e um poeminha que narra o Gênesis da física moderna, um fiat Newton incomparável;
Anna de Noailles, condessa mundana da Belle Époque, e um curto verso de sete palavras que desafia qualquer tradutor da língua francesa;
Gulherme de Brito e a canção cuja letra me orientava em encontros com pessoas tristes;
Zé Kéti e outra letra, que eu costumava cantarolar, em momentos oportunos, para minhas namoradas adolescentes;
— Euclides da Cunha
e a mais bela página da literatura brasileira;
Guimarães Rosa ficou para sempre com o romance Grande Sertão, Veredas e os contos de Sagarana. O romance..., levei trinta anos para lê-lo como deveria, isto é, palavra por palavra. Sagarana é releitura que se repete com freqüência, talvez pela intimidade que tenho com os sertões e o agreste de Minas Gerais;
Fernando Pessoa e o mar português;
Carlos Drummnd de Andrade. Descobri uns versos de Drummond que seriam, com certeza, uma resposta a outros de Fernando Pessoa;
Inês Pedrosa é uma descoberta recente. Transcrevo dois curtos parágrafos que me levaram a ler vários de seus livros;
Ingrid Borinski, há trinta anos, presenteou-me com sua tradução de Herzstück (Peça do Coração em Um Ato), de Heiner Müller. Uma jóia humorística que é pouco ou quase nada conhecida no Brasil, embora tenha sido traduzida para uma dezena de idiomas;
Ivan Lins. Ao me recuperar de um prolongada depressão, seus versos me mostraram “que a vida pode ser maravilhosa”;
O Cristo Carpinteiro, de autor desconhecido. A frase mais terrível que já lí!
Marcel Proust e John Ruskin. Minhas conexões com ambos e entre eles;
Fernanda Schnoor. Restaram alguns poemas, um breve texto e um postal com a letra da música “A little Kiss each morning”;
John Keats não me passou desapercebido. Lí o longo poema Endymion, mas minha homenagem é feita pela transcrição do primeiro verso (um dos mais belos e famosos da língua inglesa);
Wolfgang von Göethe escreveu uns versos que compunham um mandamento para os estudantes de geologia da Universidade de Viena. Arrisquei uma tradução;
Hector Bianciotti, que me mostrou a diferença entre “l’oiseau” e “el pájaro”;
Manoel Bandeira ficou-me inesquecível com sua Passárgada. Quantas vezes eu recitei aqueles quatro versos!!!;
Paulo Mendes Campos. Um vício. É um dos dois autores de quem li toda a obra. Algumas delas ainda em minha mesa de cabeceira;
Oscar Wilde é o outro. Também sempre à mão;
Eduardo Galeano foi leitura obrigatória dos anos 1970. Contestador das injustiças sofridas pelos atormentados povos dos terceiro e quarto mundos. Impossível de resumí-lo. Leiam-no todo. Menciono apenas quatro ditos de um lado seu de humor oportuno. Gostaria de ter escrito essas frases;
Kurt Gödel é aqui acompanhado por Douglas Hofstadter. Gödel, com seu Teorema da Incomplitude, derrubou os alicerces lógicos da colossal obra de Bertrand Russel e Alfred Withehead – Principia Mathematica. Esse teorema hyper-complexo passou a ser accessível ao entendimento do leitor curioso através do livro de Hofstadter – Gödel, Escher & Bach, talvez o livro, livro não, o compêndio mais “rico” que já li. Sempre à mão para consultas constantes;
Edgar Alan Poe e a descoberta de Lenore;
Gilgamesh. Vai e volta, releio o trecho dessa epopéia, o mais antigo texto impresso que se tem notícia. Também ousei levantar a possibilidade de a história desse herói ter influenciado Guimarães Rosa em sua outra epopéia, o Grande Sertão, Veredas;
Pérola Akerman, arquiteta, psicóloga e filosófa, estava inspiradíssima quando conseguiu a proeza de resumir grande parte do ensinamento de Jacques Lacan em um único poema;
— Ligia Karam
, minha mulher, que sempre soube transformar os ditos em feitos e fatos;
Félix Arver, o poeta de um único poema, dos mais famosos do romantismo francês do séc. XIX;
Muhamad Ali e o mais curto poema da língua inglesa. Quatro letras em duas palavras;
— Pablo Neruda
e os dois de seus poemas mais famosos dos Anos Dourados do Rio de Janeiro;
Axel Munthe. Para saber do impacto em se avistar uma fada, leiam o trecho de o Livro de San Michele;
Rainer Maria Rilke e os três versos que me foram segredados por Ieda Inda, porém ela não cumpriu o dito.... e foi o fim de um affair;
Robert Frost. Um verso bastante conhecido do poema The Road not taken,  ajudou-me quando tomei a difícil decisão de ir trabalhar na Guiné Bissau;
Jehovah e o mais universal dos ditos do mais famoso mito da civilização judáico-cristã;
Jacques Lacan e seu dito ilustrado e intrigante, o Nó Borromeano;
François Villon, poeta alcóolatra, ladrão, assassino, condenado à forca e banido;
— Joana Narvaez y yo... Yo que no creo en brujas, pero que las hay, las hay!
Tatiana Weihmann, alvejante do meu niver com presença e palavras;
— Li Po
, poeta do século VIII, e um amor cuja “profundidade” jamais foi igualada;
— T.S. Eliot
e seus gatos;
— Isaac Asimov.
O autor mais prolífico de todos os tempos. Um monumento. Publicou 515 livros. Li 77 (ainda em minha estante);
Ezra Pound. Um mestre. A mais precisa e concisa definição de poesia que conheço;
Thomas Friedeman. Uma alegoria de uma tribo africana que resume a vida atribulada e competitiva do mundo globalizado;— A Segunda Lei da Termodinâmica / Entropia - Uma atração fatal;
Ditos de Maria Antônia, irmã e minha primeira tutora literária;
de sobra, Poesias de Luis Alfredo e, com entrada separada
Maria e José…Nunca Mais!!!

Hoje 18 de janeiro de 2011, ainda faltam: Ligia, Lara, Maria Vitória, James Joyce, Lawrence Durrel, Jack Kerouac, Paul Géraldy, Jacques Prevert, Federico Garcia Lorca, Vladmir Maiakovski, Friedrich Nietzsche, Ferreira Gullar, François Villon, e mais…
***

Nicolas Léonard Sadi Carnot (1796-1832)

Entropia
Nicolas Léonard Sadi Carnot (1796-1832) 
 
Físico, matemático e engenheiro francês. Com 28 anos publica sua única obra. Seria o primeiro modelo teórico sobre o rendimento das máquinas térmicas – o  ciclo de Carnot, e os fundamentos das leis da termodinâmica.

Em meados dos anos 1960, passei por um dito que me encabulou… um pouco. Apontava ele que o desconhecimento rudimentar da Segunda Lei da Termodinâmica por uma pessoa de letras, equivaleria ao desconhecimento de Shakespeare por um cientista. Como conhecia “ambos” apenas pelo nome, “fui atrás” deles!

A Segunda Lei da Termodinâmica de Carnot, é comparável em relevância à lei da Gravitação Universal de Isaac Newton, às teorias da Relatividade Restrita e Geral de Albert Einstein, às equações do Eletromagnetismo de James Clerk Maxwell, e ao Princípio da Incerteza (Teoria Quântica), de Werner Heisenberg.
dS/dt > 0
Essa equação expressa a taxa de variação da Entropia (S) em relação ao tempo (t), que nunca é negativa. Em outras palavras, a quantidade de entropia de qualquer sistema isolado termodinamicamente tende a crescer com o tempo, até alcançar um valor máximo. Quando uma parte de um sistema fechado interage com outra parte, a energia tende a dividir-se por igual, até que o sistema alcance um equilíbrio térmico (*). A ilustração acima mostra um cubo de gelo que, ao ser colocado dentro de um copo d’água, começa a liquefazer. Inicialmente, água e gelo em dois sistemas com temperaturas distintas, evoluem para um único sistema com a mesma temperatura – água mais gelada.
Equaçãozinha simples, não? Mas os desdobramentos são fantásticos. Ela traduz a inexorável “seta do tempo”. Através dela pode-se demonstrar que o universo teve um princípio, pois se fosse eterno ele já estaria térmicamente morto. Está também por trás da “pulsão de morte”, de Freud, aquilo que nos empurra para o fim. Uma atração fatal, mesmo. A vida para se manter viva, contraria constantemente a segunda lei, querendo impedir a morte através da “ingestão” de energia, mas chega o tempo em que as células, perdendo a capacidade de regeneração, não mais conseguem retardar o aumento da entropia, envelhecem e morrem.
A Entropia também pode ser vista como uma grandeza que mede o grau de desordem de um sistema. Tomemos um baralho arrumado em sequência e por naipes. Sua ordem é máxima e a entropia é zero. Qualquer modificação nessa ordem, por exemplo, modificando a posição de apenas uma carta, ou embaralhando, aumentará a desordem. No primeiro caso o aumento de entropia é mínimo, mas no segundo – grau máximo de desordem – a entropia atinge seu máximo valor. Sob outro ângulo, é “mais fácil” desordenar do que colocar ordem. Com o mínimo esforço embaralhamos as cartas. Pensem no trabalho que teremos para recolocar as cartas em ordem! E vai por aí. Os exemplos não terminam. Educar uma criança, inserí-la dentro de determinado padrão de comportamento (baixar a entropia) requer mais esforço que deseducá-la.
Carnot Pensem nisso! a entropia estuda o Caos, da matéria e da vida, ou seja, de todos os sistemas do universo mineral (do cosmos ao quark) e do universo orgânico (sistemas político, social, econômico, educacional, etc.).
 
***
(*) Wikipedia

Fundamentos da Geologia Pós-Moderna

Fundamentos da Geologia Pós-Moderna
Luis Alfredo Moutinho Da Costa
Hermes Verner Inda
Esse artigo foi resultado de um impacto emocional e intelectual após assistir as palestras da Eco-Rio, em 1992. De repente, me dei conta que o planeta estava doente. Após longas conversas com Hermes Inda, resolvemos elaborar uma meditação sobre o papel atual e complementar da Geologia e do Geólogo no mundo pós-moderno.
O termo pós-moderno implicaria, entre outras coisas, em uma proposta nova associada a elementos velhos, assunto polêmico que retomaremos mais adiante.
Como substância temática – e lema final – tentaremos demonstrar que a preocupação ambiental e o social representam funções contemporâneas que já se encontram parcialmente incorporadas ao "subject-matter" das Ciências Geológicas. Falta-lhes, contudo, a universalização institucional. A contraposição se dá por paradigmas que, ou ainda postulam um fazer ciência pela ciência, ou pregam um utilitarismo alienante e direcionado ao que comumente é denominado de econômico e prático. Contudo, sem desmerecer os valores desses parâmetros na influência que exercem no campo social, ao darmos ênfase a esse social, procuramos desmitificar um pouco a noção de sócio-econômico, palavra composta por dois termos ambíguos que se antagonizam em uma dialética irresoluta.
Qual seriam os eventos dessa época pós-moderna que teriam transgredido, em quantidade e qualidade, aquelas fronteiras, primeiramente clássicas e românticas e, depois, modernas, da Geologia? A partir de quando, tais eventos se fizeram mais atuantes?
A resposta a essas questões se dará gradualmente ao passarmos, a "vol d'oiseaux", pelos últimos dois séculos de nossa história, i.e., da civilização ocidental.
A GEOLOGIA CLÁSSICA E A ROMÂNTICA
James Hutton, o fundador do que poderíamos denominar Geologia como ciência, em oposição à geognosia prevalente no século XVIII, enunciou, em 1785, seu Princípio do Atualismo, também denominado Princípio do Uniformitarianismo, como um alicerce para a ereção de uma disciplina essencialmente voltada para o passado, para a História da Terra. Em sua forma mais simplificada, o Princípio advoga que o
Presente é a Chave do Passado
significando que os processos naturais, que atualmente encontram-se ativos na superfície e no interior de nosso planeta, seriam os mesmos durante as épocas geológicas passadas. Abria-se o caminho para o redimensionamento de uma escala de tempo adequada ao processo evolutivo do planeta. Após os ataques conservadores sofridos em 1793, resolveu Hutton divulgar a vasta documentação que serviu de base às suas idéias na obra imortal "Theory of the Earth" (2 volumes, 1795. Uma parte de seu terceiro e inacabado volume, foi publicado após sua morte, em 1799 ).
Esse novo modo de olhar a Terra, "moderno" na época, era visto como subversivo quanto à religião e à toda ordem social tradicional, fazendo com que sua teoria fosse uma das mais impopulares de seu tempo; o enterrar definitivo das visões catastrofístas e neptunísticas da escola Werneriana teve de esperar algumas décadas. A dialética plutonismo-neptunismo foi lentamente esclarecida com a progressiva aceitação de conceitos evolucionistas e transformistas, que falavam de processos e efeitos atuando em "tempos indefinidamentes longos". As palavras de Hutton "...I see no traces of a beggining, no prospect of an end", começavam a se fazer ouvir. Foi Sir Charles Lyell,o principal defensor, sistematizador e divulgador dos princípios da nova ciência, em seus "Principles of Geology" (1830-33) e "Elements of Geology" (1838). Contudo, é somente na subseqüente geração de cientistas que as novas concepções merecem acolhida geral; o mais eminente representante dessa nova geração, Charles Darwin, que publicou sua Origem das Espécies em 1859, revela em sua Autobiografia que foi o estudo da Geologia e os ensinamentos de Lyell que o conduziu à teoria da evolução das espécies, muito embora tivesse obtido o mecanismo da evolução ("a sobrevivência do mais apto") de outra procedência – do ensaio de Malthus sobre população.
Também em 1859, James Hall publica, em seu clássico trabalho sobre a geologia do Estado de Nova York, a idéia revolucionária de que as partes mais elevadas da crosta terrestre – as cadeias de montanhas – se soergueram através de uma gigantesca inversão do relevo das depressões de onde se originaram. Nascia o germe do conceito de Geossinclinal, termo que foi empregado pela primeira vez por Dana, em 1873, desenvolvendo-se, a partir de então, uma das teorias mais populares das Ciências Geológicas.
Em harmonia, e fazendo eco no contexto histórico dessa época tão criadora para as Ciências Geológicas, o cenário desses protagonistas englobava aquele conjunto de transformações que deu origem à chamada Revolução Industrial, um período que, iniciado na Inglaterra em sua primeira fase, vai da segunda metade do sec. XVIII, , até o fim do século XIX (ou até o final da primeira guerra mundial)(E.B.(a), 1980). Esse termo é comumente empregado para denotar as mudanças dos processos de produção, que marcariam a passagem de uma economia agrária e artesanal para uma dominada pela indústria e manufatura de maquinarias. No intervalo de um século e meio, transforma-se radicalmente a vida do indivíduo ocidental, a natureza de sua sociedade (Europa e Estados Unidos) e de suas relações com os outros povos. Essa época pode também ser olhada como a de passagem de uma economia pré-moderna e tradicional para uma economia moderna (3). Era a Geologia Clássica, compreendendo as fases finais do Iluminismo e espraiando-se através do Período Romântico. Uma ciência que surge preocupada com a evolução ancestral da Terra, isto é com sua historiografia.
Quase que independentemente, e livre do questionamento teórico, a prática do uso dos metais desenvolvia-se independentemente do pensamento acadêmico. Foi essa prática e sua função utilitária que serviram de base, acompanharam e deram suporte à Revolução Industrial. Seus antecedentes chegam à Idade do Bronze e do Ferro. Já na Idade Média, pelo século XIV, os povos habitantes do Reno dominavam a fabricação de ferro fundido. Por volta de 1600 espalham-se os altos-fornos, barateando a produção de ferro e, no século XVIII, a substituição da lenha pelo carvão dá enorme impulso à economia e tecnologia dos produtos siderúrgicos. A localização das matérias-primas básicas – carvão e ferro – delinearam a geografia industrial dos países primeiramente industrializados (da Europa e os Estados Unidos). Nessa parte do hemisfério norte estão as principais reservas de carvão desse momento histórico (da bacia do Don, através da Silésia, o Ruhr, Lorraine, o norte da Inglaterra e País de Gales, a Pensilvânia e a Virgínia Ocidental). Foi o metal produzido de boa qualidade e o combustível abundante e barato que contribuiram decisivamente para esse revolução industrial (e aí foi preponderante o desenvolvimento da máquina a vapor, a grande consumidora do mesmo ferro e do mesmo combustível siderúrgico).
Em resumo, vimos uma Ciência Geológica dos tempos chamados heróicos, digamos, pura, uma ciência nova que vem substituir uma geonomia quase bíblica. Um ramo do saber humano preocupado em desvendar a história do passado planetário. Nessa brotavam e evoluiam as raízes da cristalografia, mineralogia, petrografia e petrologia, sedimentologia, paleontologia, geologia estrutural, e as sínteses dadas pela estratigrafia, geologia histórica e geotectônica, aprimrando-se também a forma de retratar a face da Terra –- a cartografia. Notamos também que, quase que divorciado dessa geologia pura, desenvolvia-se aquele outro e diverso ramo de atividades, o qual já estava implantado, quase que a nível de instinto, no primeiro homo que inventou a primeira ferramenta. Era o ser preocupado em prover para sí as matérias-primas fundamentais para atender suas necessidades, sejam as necessidades ditas básicas ou as errôneamente ditas supérfluas que, com o passar do tempo, cada vez mais se tornavam mais variadas e complexas: era o prospector, o minerador e o metalurgista. Não era o Geólogo! Não era essa a função daquele geólogo clássico e romântico!
A GEOLOGIA NOS TEMPOS MODERNOS
Avançando no tempo, se seguirmos os mesmos cânones que batizaram de modernas a Economia, as Artes Plásticas, a Literatura, a Música, a Linguística e a Antropologia, a Psicanálise, a Física, a Química, ou a Ciência em geral, da época pós-Revolução Industrial, a Geologia Moderna, deveria acompanhar o período do próprio Modernismo.
O "Projeto da Modernidade", segundo T. Coelho (4), foi lançado durante a época da Primeira Revolução Industrial, onde a revolução tecnológica acompanha um novo pensamento sobre o social (Marx), e os passos iniciais da Psicanálise e de outros modos de pensar e agir da humanidade Contudo, a "nossa" modernidade (Coelho, op.cit.) parece cristalizar-se apenas nos primeiros anos do século XX. A nosso ver, a grosso modo, ela pode ser estendida, no tempo, pelo menos para alguns ramos da atividade humana, em simultaneidade com o que alguns autores denominam de Segunda Revolução Industrial: o conjunto de inovações tecnológicas ocorridas na primeira metade de século XX, (o uso extensivo da eletricidade, o motor de combustão interna e o automóvel, o petróleo como combustível, o aparecimento de uma indústria química de sintéticos, etc...).
A Geologia, como disciplina, acrescenta para sí o que aparece de novidade em termos metodológicos aplicados, dando origem à Geofísica, à Geoquímica e à Oceanografia. Durante a primeira guerra mundial, surge a idéia de reconhecimento do terreno através de fotografias tiradas em vôo, semente da aerofotogrametria e da fotointerpretação e, posteriormente, da Fotogeologia, disciplina também incorporável à Geologia. Uma das facetas do Modernismo diz respeito aos conceitos de combinação e aglutinação de formas em uma síntese renovada. Paradoxalmente, o modernismo afluía também com a função analítica suplantando a função de síntese; é uma época de fragmentação, como dizia Paulo Mendes Campos sobre a década de 1920, quando Picasso fragmenta a forma; Husserl, o pensamento; Valéry, a Inteligência; Russel, a Lógica; Stravinski, o som; Freud, a alma; Einstein, o átomo... Na Geologia, a função analítica fragmenta a percepção da Terra em unidades cada vez menores, detalhando cada vez mais profundamente o estudo das Formações, das Estruturas, das Rochas, dos Minerais e da Idade do Planeta. Entretanto, é no processo de combinar que a Geologia vai se travestindo de geologias, vai se pluralizando. Fala-se então, não mais de Geologia, mas de Ciências Geológicas, quase que sinônimo de Ciências da Terra, aí incorporando o que viria a ser a Hidrogeologia e a Geologia de Engenharia ou Geotécnica. A Petrografia microscópica descritiva tem seu marco no final da época anterior, com o trabalhos de Rosenbusch (1877) e de Fouqué & Michel-Lévy (1879); uma Petrografia com abordagem analítica e apoio na química e físico-química, precursora da Petrologia, é exemplificada pelas pesquisas de Lagorio (1887) e Vogt (1884). Contudo, a Petrologia ppd e a Petrologia Experimental já pertencem aos inícios do modernismo, com Vogt (1923), Harker (1909), Daly (1914, 1933), Loewinson-Lessing (1899-1911) e Bowen (1928). (q.v. Loewinson-Lessing & Tomkeieff, 1854) Quer dizer, a Petrologia inaugura seu classicismo nos princípio dos tempos modernos, e vem se modernizando continuamente desde então.
A PÓS-MODERNIDADE NA GEOLOGIA
E O MODERNO TARDIO
Uma Terceira Revolução Industrial, ou melhor, a última grande Revolução Tecnológica, tem início com o final da segunda guerra mundial. Seria o início da era pós-industrial ppd que, de acordo com alguns pensadores, marcaria o início da Pós-Modernidade (para alguns setores da arte, da ciência e da tecnologia (Coelho, op.cit.): o uso da energia atômica e dos isótopos radioativos para fins pacíficos, a época da saúde (pós-penicilina), onde ninguém mais morre do flagelo moderno – a gripe, o desenvolvimento da eletrônica, da informática, dos computadores, da televisão e dos satélites artificiais.
E a Geologia , nesses tempos pós-modernos?
Muito embora a Teoria do "Continental Drift" já se mostrasse razoavelmente esboçada em bases científicas pelas sínteses pioneiras de Dietz (1961), Hess (1962) e, em seguida, Wilson (1963), – proposta de formação de crosta oceânica pelo processo de "seafloor spreading" –, foi devido à sofisticação da aparelhagem geofísica que as campanhas oceanográficas de investigação do fundo dos oceanos permitiram a descoberta das chamadas Falhas Transformantes (reconhecidas por Tuzo Wilson em 1965), possibilitando um melhor entendimento da cinemática e, posteriormente, da dinâmica das chamada placas litosféricas; nascia a Tectônica de Placas como o melhor representante da maior revolução científica no campo das Ciências da Terra desde a época de Hutton.
Foram necessários dois séculos para obtermos um olhar tipicamente "moderno" sobre a crosta da Terra. Uma visão moderna, que chegava tardiamente.  Mobilidade é uma das características do Modernismo, onde tudo está em movimento e transformação, em reação ao pensamento imobilista pré-Revolução Industrial. Ironicamente, o pensar modernista não havia escapado a um meteorologista alemão, de nome Alfred Wegener, que em 1912 – a década repleta de modernidade para as artes e as ciências – teve o primeiro insight teórico do que anos mais tarde viria a ser comprovado como a Teoria do "Continental Drift". Segundo Wegener, todos os continentes estariam unidos em uma única massa contínua – a Pangaea, que supostamente teria se partido em fragmentos durante a Época Mesozóica (entre 250 e 65 milhões de anos atrás). Esses fragmentos, transladando-se para longe uns dos outros teriam dado lugar ao Oceano Atlântico, e aos continentes Americano, Africano e Euro-asiático. Seus argumentos eram válidos (coincidência de linhas de costa entre Brasil e África, semelhança de elementos de fauna e flora pré-Mesozóicas no Brasil, Índia e África, etc...), mas faltava-lhe um mecanismo que explicasse convincentemente a dinâmica de movimentos crustais horizontais. A Ciência, como instituição do saber dominante é sempre reacionária, seja ela de época medieval, clássica ou moderna. A teoria de Wegener teve de esperar tanto quanto a teoria de Hutton para que a comunidade científica, como um todo, lhe desse o devido crédito. Já a pós-modernidade, como atitude atemporânea, e não como estilo que marca uma época, coloca-se sempre aberta ao questionamento, à reflexão, favorecendo a transgressão e subversão dos princípios dominantes. E essas são características fundamentais que permitem o progresso do saber.
A década de 60 assiste a um tremendo desenvolvimento de nosso conhecimento sobre sistemas deposicionais e sobre a crosta oceânica, enquanto que a década seguinte, é marcada pelo avanço da Geocronologia em geral. Também pertence aos anos 70, o reconhecimento mais aprofundado da evolução das faixas móveis granulíticas e dos terrenos Arqueanos, não somente devido às pesquisas sofisticadas sobre as rochas lunares, mas, principalmente, pela descoberta das chamadas lavas komatiíticas e pela introdução do conceito de "Granite-Greenstone Belts", através dos estupendos trabalhos dos irmãos Viljoen & Viljoen (1969a, 1969b).
Durante as décadas de 1970 e 1980, devido à descoberta (filmagem "ao vivo") de sulfetos maciços gerados pelos chamados "black smokers", e à descoberta dos depósitos recentes de sulfetos metálicos estratiformes no fundo dos oceanos, a Teoria de Placas e a Metalogenia, consolidam seu casamento e presenteiam as Ciências Geológicas com um quadro dos mais satisfatórios sobre a gênese dos depósitos minerais do Neogeno; foi o primeiro passo para, como que reavivando o Princípio do Atualismo Huttonniano, surgissem propostas que revisitassem os tempos geológicos passados com a nova percepção da dinâmica das placas tectônicas e da metalogenia associada. Os anos 80 assistem, ainda, a evolução da Geocronologia baseada em novas razões isotópicas (Samário/Neodímio, p.ex.), o desenvolvimento da Geologia de Isótopos, Geoquímica de Elementos Traços Petrologia Experimental, etc...
É ainda dessa segunda metade do século XX, que a cartografia geológica recebe um aliado poderoso – o sensoriamento remoto, em seus vários comprimentos de onda de rastreamento da superfície terrestre. Porém, é a Informática e o desenvolvimento dos computadores velozes que proporcionam às Ciências Geológicas o manuseio eficiente de um número incontável de dados, o processamento combinado de informações, a rápida atualização e recuperação dessas informações, a elaboração de mapas digitais e a combinação de informações em sistemas georeferenciais, daí surgindo a aplicação na Geologia do chamado GIS (Geographic Information System) (Sistema de Informações Geográficas – SIG).
Não poderia ser mais oportuna uma breve transcrição de algumas palavras de Dallas Peck (1992, Message from the Director), Diretor do Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS). O avanço na tecnologia de computadores permitiu aos cientistas o manuseio sistemático de uma grande massa de informações, abrindo caminho para novos "insights" sobre a terra em que vivemos. "Nossa visão da Terra começou a mudar... Hoje, a força do mapa tradicional impresso, os recursos do sensoriamento remoto e o poder da computação moderna em Sistemas de Informação Geográfica (SIG), são combinados para nos auxiliar a perceber novas formas de entendimento e de gerenciamento de nosso planeta.
A utilização criativa da tecnologia GIS não é exclusiva do USGS, sendo empregada por mais de 95 organismos federais e milhares de agências estatais e entidades privadas nos EUA (no Brasil, a CPRM lidera a tecnologia GIS). "Bilhões de dólares são investidos anualmente para fazer face a vasta demanda de informação e a enorme quantidade de dados a serem processados e coletados e atualizados. Essa ferramenta poderosa tem permitido – ainda as palavras de Dallas Peck – a focalização de áreas de risco e a conseqüente elaboração de programas realísticos de prevenção de acidentes e medidas de resguardo e mitigação...Ações vi
sando proteger ou restaurar os suprimentos hídricos são auxiliadas por análises complexas que podem ser eficientemente orientadas pelo SIG...Aplicando-se a tecnologia SIG em campos tais como: proteção dos recursos hídrológicos, planejamento e gerenciamento territorial e urbano, e prevenção de acidentes naturais, os cientistas estão proporcionando à população, aos responsáveis pelo gerenciamento dos recursos naturais e aos executivos uma massa vital de informação em prazo nunca d'antes atingido".
A Pós Modernidade como Atitude
Para F. Lyotard (1979,1990), que viria a organizar uma exposição auto-intitulada pós-moderna em Paris (1985), a passagem da cultura para a pós-modernidade, acompanhando a passagem da sociedade para a era pós-industrial, teria principiado no final dos anos 50, marcando para a Europa o final de sua reconstrução pós-guerra. Para Lyotard (op.cit., p. xv) o conceito designa o estado da cultura após as transformações que afetaram as regras dos jogos da ciência, da literatura e das artes a partir do século XIX. É um conceito sobre o saber das sociedades ditas desenvolvidas. As condições gerais de vida da maioria da população do Terceiro e Quarto mundos carecem de modernismo, quanto mais de pós-modernismo. Não há modernidade que se sustente coletivamente onde há miséria e pobreza generalizadas. O que há são focos restritos de indivíduos e instituições privilegiadas, que conseguem meios para acompanhar a contemporaneidade dos acontecimentos ditados pelo Primeiro Mundo. (Estamos intermitentemente citando algo do social nesse texto pós-moderno(?) para não nos perdermos inteiramente, junto com o leitor, do objetivo inicial advogado pelos parágrafos introdutórios).
A Arquitetura representa o domínio onde o pós-moderno cristalizou-se pela primeira vez com razoável clareza, e de onde saiu para alastrar-se pelas demais artes (Coelho, op.cit., p.63). Contudo, o conceito já ultrapassou esses limites, e são diversos os ângulos pelos quais se pode ter uma percepção do pós-modernismo, tantos quantos forem as linguagens consideradas. Para Wilmar Barbosa (1990), o cenário pós-moderno é essencialmente cibernético, informático e informacional.
Não caberia no presente trabalho uma dissecação conceitual e histórica da pós-modernidade. Portanto, tentaremos discriminar apenas aqueles pontos que espelhariam uma semiologia representativa do que percebemos como pós-modernidade nas Ciências Geológicas.
Não podemos resistir a tentação de pedir emprestado a Artaud (1983) sua proposta sobre o abandono do produto teatral pela produção teatral (com apoio em Coelho (op.cit.), que procura uma teoria maior da pós-modernidade), e de subvertê-la em uma "paráfrase" que proporia a preponderância da produção geológica sobre o produto geológico.
Todo processo de produção, seja ele cultural, tecnológico ou científico, passaria por três fases: 1) a da idealização ou produção p.p.d., que finda com a elaboração do produto; 2) a da distribuição, que coloca o produto em contato com o intermediário ou usuário final, e 3) a do consumo, quando o produto é efetivamente consumido e utilizado pelo receptor concreto. Esse mecanismo, imbuido de posturas que vão do clássico ao moderno, significa que o receptor, no teatro (Coelho, op.cit., p. 85), ou o usuário, na Geologia, só é admitido no processo quando o produto está pronto e acabado. A pós-modernidade no teatro tenta organizar experiências para diminuir os limites entre palco e platéia, onde todos atuam, niguém apenas assiste.
Essa atitude – tipicamente pós-moderna – já vem sendo experimentada por diversas instituições. Mais adiante exemplificaremos duas delas (o USGS e a CPRM, com seus Programas de Gestão Territorial), onde uma abordagem "bottom up" coloca a comunidade usuária final, que é carente de determinado produto geológico, participando da primeira das fases de produção: a da idealização e planejamento do produto.
Como notamos anteriormente, também caberia à Geologia a procura de uma linguagem própria e que a caracterizasse, integral ou parcialmente, como uma "disciplina" do pós-modernismo. A pós modernidade tem clara consciência dos fenômenos de comunicação e significação e, o produto da Geologia, tal como a obra arquitetônica, deve procurar uma linguagem bifronte (Coelho, op.cit., p. 76); deve falar para o próprio geólogo, isto é, para uma minoria esclarecida, e deve falar também para o grande público que se interessa pela sua utilização.
Ora, parte dessa linguagem aí está, de forma mais óbvia com termos tomados da:
1 - Sociologia, Antropologia e Semiótica
2 – Ecologia
3 - "Léxico" quantitativo dos processos naturais transformadores do meio físico.
Seria a sintaxe combinada desses elementos que reordenaria o pensamento e o discurso da nova gramática sustentadora das bases para uma Geologia Pós-Moderna. Vamos nos aproximando desse fechamento, faltando tocar brevemente nos três ítems acima mencionados.
A ECOLOGIA NA PÓS-MODERNIDADE. O SOCIAL.
INTERSECÇÕES COM A GEOLOGIA PÓS-MODERNA
A Ecologia como uma ciência do meio-ambiente, tem suas raizes na zoologia e biologia do século passado, quando o conceito de "meio-ambiente" incluía a esfera biótica e excluía a esfera antrópica. Contudo, esse conceito clássico de Ecologia, passa a alcançar novas fronteiras na década de 1920 (Couto & Villaschi, 1992) através de Robert Park e Ernest Burguess, com o nascimento da Ecologia Humana. A Ecologia contemporânea, da pós-modernidade, não mais representaria uma simples (1) "parte da Biologia que estuda as relações entre os seres vivos e o meio-ambiente em que vivem...e suas recíprocas influências"; Aproxima-se um pouco mais do (2)"ramo das Ciências Humanas que estuda a estrutura e o desenvolvimento das comunidades humanas em suas relações com o meio-ambiente e a sua conseqüente adaptação a ele, assim como os novos aspectos que os processos tecnológicos ou os sistemas de organização social possam acarretar para as condições de vida do homem" (Buarque de Holanda, 1975). É a inserção do registro do Simbólico Lacaniano, que é uma característica do ser falante, como fator de influência no meio ambiente. Entretanto, a Ecologia atualmente é mais do que isso. Se, na segunda definição do "Aurélio", entre outras modificações, substituirmos os termos acima italizados em negrito - humanas e do homem - , por seres vivos, então chegaremos a uma definição mais condicente com nossa época pós-moderna.
Já é voz corrente do discurso ambientalista – um chavão melancólico – que nesse prefácio do terceiro milênio, o ecosistema planetário revela contundentes manifestações de desordens antropomórficas ou tecnogênicas em todas suas "esferas": biosfera, atmosfera, hidrosfera e litosfera. A ecologia deixa de ser um simples ramo do conhecimento de certas ciências – Biologia, Ciências Humanas, etc..., para, de alguma forma, fazer parte de todas elas, e para integrar-se autônoma no imaginário cotidiano do ser pensante. Guattari (1990, p.8) chega a falar de ecosofia para designar o que chama de três registros ecológicos: o do meio-ambiente (ecologia ambiental); o das relações sociais (ecologia social); o da subjetividade humana (ecologia mental). Nancy Unger (1991) fala de ecologia e espiritualidade, desenvolvendo o tema "Deep Ecology" de Devall & Sessions (1985). Luís Alberto Warat (1990) preocupa-se com uma ética do ecológico mental e tenta "apanhar a pós-modernidade por um de seus lados negativos - a falta de amor..." e vai "pensar o amor como uma dimensão simbólica emancipatória da pós-modernidade". Oswaldo Amorim Filho (1992) enfatiza os estudos da percepção ambiental como provedora afetiva do valor que o ser humano pode consignar à paisagem que o contorna e o envolve. Enfim, a Ecologia já representa uma certa zona de interseção entre várias atividades e ramos do conhecimento humano e, como tal reclamaria por uma semiótica própria.
O status da Ecologia é de magnitude planetária e universal. O "Ecosistema é um só, no interior do qual existem relações sociais" (Daniel Cohn-Bendit, in A. Risério (1992)). O mesmo artigo de A. Risério, que se intitula "A Hora da Sociologia Verde", sublinha a "pobreza do discurso sociológico no tratamento da questão ecológica". A própria história da Sociologia revela uma educação sociológica que se mostra "bastante otimista diante da modernidade. A confiança Marxista no mundo industrial é um bom exemplo...até mesmo o ceticismo de Weber não antecipou qualquer catástrofe na trajetória do mundo moderno...O trabalho industrial podia ser visto como degradante, misto de tortura física e humilhação espiritual". Entretanto, não pertencia ao pensar sociológico institucionalizado que as forças produtivas teriam um tremendo potencial destrutivo. Contudo, a pós-modernidade vai lentamente minando essa visão "sociocentrista" distorcida, ao mesmo tempo em que essa mesma pós-modernidade, embora tardiamente, ameniza o discurso ambientalista radical da década de 70, quando prevalecia uma ideologia da contracultura e da contraindústria. As forças antagônicas dessa dialética hegeliana, encontram a síntese na reflexão da pós-modernidade. "...não é a defesa do meio ambiente: isso é apenas parte do programa" (Cohn-Bendit, op.cit.). Lembra Risério que os "próprios guerreiros do arco-íris (leia-se "Greenpeace") falam na busca de alternativas econômicas que sejam ambientalmente sadias e socialmente justas". Atualmente domina o refrão autosustentável. Estamos aí assistindo a um encontro. É mais um muro que se desmorona e convida ao abraço entre o fundametalismo verde anacrônico do ecocentrismo e a impermeabilidade sociocentrista.(q.v. Almino, 1991).
Seria impossível citar os inúmeros eventos que vêm ocorrendo como fato sócio-científico concreto, através da diversidade de organizações, projetos, simpósios, congressos e publicações, relacionando certas atividades do campo da geologia com disciplinas e assuntos direta e/ou indiretamente ligados ao meio ambiente. Chamamos a atenção para um dos programas do USGS (Peck, op.cit.), denominado "Earth Science in the Public Service" - que bem poderia ser traduzido "As Ciências da Terra na Defesa Civil", e que foi colocado em teste antes, durante e após a erupção do vulcão do Monte Pinatubo, Filipinas. Através de uso intensivo de equipamentos sofisticados integrados a uma tecnologia SIG, o USGS, em conjunto com organismos especializados do governo Filipino, foi possível a identificação cartográfica das áreas de risco iminente, o lançamento de alerta e a elaboração de medidas de prevenção e resgate. Como consequência, mede-se o resultado obtido no salvamento de inúmeras vidas e de bilhões de dólares em equipamentos. Esse esforço cooperativo é marcado por um sucesso científico e humanitário, nos dizeres de Dallas Peck. Destacamos, acima, a palavra humanitário, incorporada naturalmente no discurso de um dos arautos da geologia norte-americana. Lembramos também que a "Agenda 21", documento básico da Rio-92 (ou Eco-92) (Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento), prioritiza o Social em sua proposta de desenvolvimento sustentável.
Destacamos, ainda, do já antigo II Simpósio - Situação Ambiental e Qualidade de Vida na Região Metropolitana de Belo Horizonte e Minas Gerais (27 a 29 de Outubro de 1992), promovido pelo Núcleo de Minas Gerais da Associação Brasileira de Geologia de Engenharia (ABGE), os assuntos abordados por quatro temas: I - Bases Conceituais e Filosóficas da Gestão Ambiental; II - Diagnóstico Ambiental; III - Projetos e Resultados de Controle Ambiental; IV - Educação Ambiental e, V - Aspectos Institucionais e Qualidade de Vida. Sob esses temas, as mais variadas palestras versaram sobre: filosofia, estudos da "Percepção como a Última Fronteira da Gestão Ambiental" (Amorim Filho), ecologia humana e ecologia urbana ("Cidade, Casa do Homem", de Couto e Villaschi), política urbana, geofísica aplicada, geoquímica aplicada, mapeamento ambiental, estudos sobre insolação e radiação solar, efeito estufa, monitoramento de aquíferos e de águas superfíciais, qualidade do ar, poluição sonora, tecnologia de manejo de espécies nativas para recuperação de áreas degradadas, despoluição de bacias, avaliação e controle de enchentes, controles de emissões poluidoras do ar, caracterização e controle de focos erosivos, reciclagem e qualidade de vida, educação e limpeza urbana, projeto de oficinas para educação ambiental, usinas de tratamento de rejeitos humanos, gestão popular a nível municipal, sistemas de informação meteorológica, rede cibernética intermunicipal visando regionalização do controle ambiental, etc... Foi um encontro multidisciplinar, mas era flagrante o predomínio de membros das Geociências. Sem se intitular ou saber, alí estavam os discursos repletos de geologia pós-moderna. E de lá para os dias de hoje – passados dez anos – essa tendência se manteve.
Kevin Burke (in Symon & DeFries (1992)), da NASA, audaciosamente sugere que a interação dos sub-sistemas: Atmosfera, Oceanos, Terra, e Seres Humanos seja conjugada por uma única Ciência, uma Ciência do SISTEMA TERRESTRE. Uma reabordagem do conceito de Gaia, de Lovelock (1982). Essa aglutinação terminológica – UM Sistema – é uma prática adquirida do modernismo. 
Já o procedimento tipicamente pós-moderno, implica na colocação dos sub-sistemas em blocos de significação (A "parataxe" de Coelho (op.cit., p.103)), sem explicitar a relação que os une.. Existe uma intuição de que a presença de um certo bloco é compatível com o outro, por mais diversos que possam ser em suas autonomias; e basta essa sensação para que o processo de justaposição seja acionado. A significação final resultará desse processo de coordenação e será, necessáriamente, maior do que a simples soma das partes. Esse vazio que se coordena, implica que a Parataxe não admite a figura de um receptor passivo. Ou ele preenche esse vazio e tece a trama que clama por participação, ou não haverá significação para ele.
O receptor passivo seria um ser da modernidade, a espera de "alguém" que participasse por ele, e lhe desse de presente um produto já sintetizado, acabado e pronto para o consumo. Em oposição, a pós-modernidade vem demandar uma maior responsabilidade do ser humano.
Como vimos, é de se deduzir que a especialização advinda da modernidade é necessária e deve permanecer nesses novos tempos de reflexão, como única forma de digestão da multiplicidade do conhecimento humano. Entretanto, é a visão guestaltista, de que o todo é maior que a soma das partes, que faz da coordenação das informações uma nova coordenação, uma aglutinação conceitual onde as partes integrantes permanecem incorruptíveis.
As Ciências Geológicas não podem e não estão faltando a esse grande encontro da contemporaneidade. Um encontro de todas as ciências em um forum comum, onde o saber procura se socializar, dissociando-se do poder, ao aproximar aquele que produz o saber daquele que consome o saber, isto é, ambos seres humanos.
Esse convite nos retorna ao tema antes introduzido, que propõe uma Geologia para o Social, a qual, por quase que uma imposição da pós-modernidade, deverá buscar sua autenticação através de um sincretismo Geológico-Ecológico-Social (em parataxe).
É essa a transliteração do título deste artigo. Os exemplos citados no decorrer desse texto revelam essa nova participação das Ciências Geológicas (o que, de forma alguma exclui a velha participação); faltava-lhe apenas um Nome que traduzisse um atributo que pertence ao que poderíamos chamar de consciente coletivo. Nosso brevíssimo discorrer histórico revelou uma diacronia de eventos enriquecedores dessas Ciências Geológicas, muito embora predominasse, como ainda predomina a nível sincrônico, que o conceito de Geologia esteja mais associado ao "passado geológico" do que ao presente ou ao futuro da Terra. O Princípio do Atualismo "O Presente é a Chave do passado" permanece adequado para o fazer geológico clássico e moderno. Contudo, a reflexão da pós-modernidade clama por um novo Princípio que sustente uma nova epistemologia geológica; um Princípio que oriente a Preservação do Sistema Terrestre, que oriente o geólogo para o presente com vistas no futuro, em comunhão com os ambientalistas em geral, sociólogos, etc.... Esse Princípio poderia ser enunciado como:
O Presente a Chave do Futuro
A Geologia Pós-Moderna é uma geologia voltada mais imediatamente para a qualidade de vida e bem-estar do Homem e para seu meio-ambiente, onde a água é o mais precioso bem mineral. Uma Geologia, que estuda a Terra visando o bem-estar do Homem, contribuindo na manutenção da integridade e harmonia entre as esferas Biótica, Antrópica e Física.
A "nova" geologia se concentra no aprender sobre os processos naturais e seus efeitos de duração em escalas de tempo "mais curtas" do que as escalas geológicas "classicas" em geral. Diríamos que as escalas de tempo mais adequadas para prognósticos em geral, excluiriam aqueles processos abaixo definidos como de durações extremamente longas a longas, os quais compreendem dezenas de milhares, centenas de milhares, milhões a centenas de milhões e bilhões de anos.
O geólogo pós-moderno deve passar a pensar em segundos, minutos, dias, semanas, anos, dezenas de anos a séculos e até alguns milhares anos. O "passado geológico" em foco compreende os últimos 10.000 anos, quando se inciou o que Ter Stepanian (1988) (comunicação verbal de Walter Marques, 1992) chama de Tecnogeno ou Quinário, como um "período geológico" seguinte ao Quaternário, e marcado pelo início da ação do Homem como transformador intensivo e extensivo de seu meio-ambiente.
A matéria que se segue, em forma de anexo, deve contribuir para aquele "Léxico" quantitativo já citado; um "aide memoire" que auxilie o geólogo pós-moderno a se situar nas variável tempo, nessa quarta dimensão que completaria sua formação geo-referencial.
AS ESCALAS DE TEMPO DOS CICLOS DE
TRANSFORMAÇÃO DO SISTEMA TERRESTRE;
1) Ciclos de duração extremamente longos: medido em dezenas de milhões a bilhões de anos passados; processos evolutivos da crosta, manto e núcleo da Terra; formação de continentes, ilhas e áreas oceânicas; deriva continental, formação de cadeias rochosas através de colisões entre placas, erosão e aplainamento de cadeias de montanha; transgressões e regressões em escala continental; fases orogenéticas e metalogenéticas, surgimento da vida e criação da atmosfera, estratosfera, etc... evolução das espécies, etc...
2) Ciclos de duração longa, medido em várias dezenas, em centenas de milhares até alguns milhões de anos; ciclos climáticos globais de longa duração; o sistema terrestre assiste a oscilações climáticas entre eras glaciais e interglaciais, desenvolvimento de solos muito espessos, variações no sistema de correntes oceânicas profundas, intemperismo químico extensivo, evolução das espécies; mudança no sentido de movimento das placas tectônicas, flutuações eustáticas com amplitudes acima de 100 metros, excentricidade da órbita da Terra, alterações cíclicas da órbita da Terra em torno do Sol, inversão do campo magnético terrestre;
3) Processos de duração média, medidos em séculos a poucos milhares de anos; variações climáticas globais, formação de planícies de inundação, variações da linha de costa, assoreamento de lagos rasos, intemperismo químico com formação de solos de 0.5 m a 2,0 m de espessura, variações na inclinação do eixo da Terra, precessão do eixo da Terra; depósitos tecnogênicos e modificação do meio ambiente pela esfera antrópica.
4) Processos de durações curtas, medidos em ano, vários anos e décadas; formação da camada de húmus do solo, variações climáticas sazonais e depósitos de varves, aumento e derretimento da calota polar devido à variação climática anual, crescimento anual dos animais e vegetação; depósitos tecnogênicos e modificações do meio ambiente pela esfera antrópica (poluição atmosférica e das águas superficiais e subterrâneas, subsidências)
5) Processos de durações muito curtas, medido em meio-dia, dias e semanas. Ciclo das marés e depósitos correlatos, variação diurna de temperatura devido à rotação da Terra, tempestades e inundações com depósitos de inunditos e landslides, cataclismas vulcânicos e depósitos de tephra, algumas catástrofes, depósitos tecnogênicos (lixo, esgotos, efluentes industriais e rejeitos em geral, etc..) e modificações do meio ambiente pela esfera antrópica (incêndios, desmatamentos, poluição do ar e águas superficiais, etc...)
6) Períodos excessivamente curtos: medidos em segundos, minutos e horas. Tempestades e furacões, terremoto e tsunamis, correntes de turbidez, cataclismas vulcânicos, landslides e avalanches, impacto de meteoritos; catástrofes em geral, depósitos tecnogênicos (lixo, esgotos, efluentes industriais e rejeitos em geral, etc...) e modificações do meio-ambiente pela esfera antrópica (incêndios, poluição sonora, etc...)
***
A idade do Universo está estimada entre 10 a 20 Ga
A idade do Sistema Solar em torno de 4,6 Ga
A idade da mais antiga rocha lunar é de 4,5 Ga
A idade da mais antiga rocha da crosta terrestre é de 4,28 Ga
Obs.: Ga = Giga-ano ou bilhão de anos.
Enfatizar o novo pensar sobre as unidades de medida dos processos geológicos; padronização das unidades segundo Z. Kukal (24)
- Velocidade de erosão cm/100 anos
- Velocidade de intemperismo cm/100 a
- Velocidade de sedimentação cm/ 1000 a
- Velocidade de movimentos crustais mm/a
- Vel. de mudanças do nível do mar mm/a
- Velocidade das águas subterrâneas m/a
Variáveis (dependentes e interdependentes): Morfologia, Topografia, Clima, Vegetação, Solos, Hidrografia, Atividade Humana ou Biótica em geral:
III - VELOCIDADE DE EROSÃO:
Considerações sobre os mecanismos e fatores que afetam a erosão.
Nas cadeias de montanhas tipos alpino ou andino, pensar em 1 mm/a , equivalente a 1 metro/Mil anos
Erosão devido a agentes biológicos; bioturbação
Erosão vertical nos rios
Erosão lateral ou regressiva
Gradientes dos Taludes:
Catástrofes
Média de erosão dos Continentes:
IV - VELOCIDADE DE FORMAÇÃO DE SOLOS
V - VELOCIDADE DE SEDIMENTAÇÃO
Planícies de Inundação: pode ser medido em décimos de centímetro/ano (Nilo, Tigre, Columbia), em centímetros/ano (Ohio, Cimaron) ou em decímetros/ano (Missouri, Kansas, Connecticut)

Canais de Rios: a velocidade de acumulação de sedimentos grossei­ros pode chegar a alguns metros em 24 horas.

Leques Aluviais e Coluviais: acumulação de sedimentos variando de al­guns centímetros a várias dezenas de metros/1000 anos

Lagos: dezenas de centímetros a poucas dezenas de metros/1000 anos
Sedimentos eólicos: alguns centímetros a dezenas de metros/1000 anos
Deltas: 23 m/a (23 km/1000 a) no Yangtze-Kiang; 268 m/a no Hwang-Ho (observação: velocidade variando segundo o estágio de evolução: p.ex.: o Nilo, com uma média de 30 cm/1000 a, desde o início de sua formação; variação de 3 a 88 cm/a entre 57000 e 17000 anos atrás; velocidade flutua entre 1 e 36 cm/1000 durante os milênios seguintes; atualmente está em torno de 8 cm/1000 a
OBS.: Discutir tempo e espaço, média dos processos de longa duração, evolução por saltos, sucessão de catástrofes, etc...
etc...
VI - VELOCIDADE DA DIAGÊNESE
VII - MUDANÇAS DA LINHA DE COSTA
VIII - MUDANÇAS DO NÍVEL DO MAR; Transgressão E Regressão
IX - O MOVIMENTOS DAS ÁGUAS
Velocidade do meio líquido
Velocidade de infiltração
Velocidade do lençol freático
XIII - VELOCIDADE MÉDIA DE TRANSFORMAÇÃO GLOBAL DA CROSTA TERRESTRE
A Erosão de uma Cordilheira do tipo Alpino ou Andino, com 6 a 8 km de altitude procede-se a uma razão de 1 a 2 metros/1000 anos (ou 1 a 2 mm/a,) o que equivale a uma média de 1 km a 2 km por Milhão de ano. Com a diminuição exponencial da velocidade com a elevação, (Ahnert, 1965), os alpides Hymalaios seriam arrasados a cerca de 10% da sua altura em um máximo de 8 Milhões de anos; levando-se em conta uma certa compensação isostática, o tempo atingiria cerca de 14 Ma.
A velocidade de soerguimento vertical – orogênese – possui a mesma ordem média de grandeza: 1mm/a. Em zonas de alta atividade, essa razão pode atingir até 10mm/a.
A velocidade média de sedimentação em zonas ativas, circundadas por relevo acentuado, igualmente atinge a mesma ordem de grandeza: 1mm/a. Uma fossa ativa, com cerca de 8 km de profundidade seria totalmente preenchida em 8 Ma, não fosse a digestão dos sedimentos pela zona de subducção.
O assoreamento de lagos se processa naturalmente em tempos com ordens de grandeza 2 a 3 vezes menores: dezenas a centenas de milhares de anos, considerando os casos em suas profundidades variam entre dezenas a centenas de metros. Com a participação do homem (esgotos e efluentes em geral), esse tempo pode encurtar ainda mais (décadas).
NOTA: processos de desertificação; avanço e recuo de geleiras; fenômenos peri-glaciais; inundações; mudanças da linha de costa; karstificação; erosão por torrentes; catástrofes devidas a furacão, vulcanismo, terremoto e maremoto. Escalas de tempo menores: anual a ciclos de 100 anos.
Referências Bibliográficas
(1) HALL, J., 1859 - Description and figures of the organic remains of the Lower Helderberg Group and the Oriskany Sandstone; Natural History of New York. Paleontology, Geol. Survey, Albany, N.Y., 3, 544 pp.
(2) DANA, J.D., 1873 - On some results of the Earth's contraction from cooling, including a discussion of the origin of mountains and the nature of the Earth's interior. Am. J. Sci., v. 5, pp. 423-443; v. 6, pp. 6-14, 104-115, 161-171.
(3) ROBERTS, J. M. - The Pelican History of the World, 1985 - Penguin Books, 1052 pp., Rev.Ed. 1980 (reprinted 1985).
(4) COELHO, TEIXEIRA, 1990 - Moderno Pós Moderno. L&PM Editores S.A., São Paulo, SP, 176 pp.
(5) LOEWINSON-LESSING, F. Y. & S. I. TOMKEIEFF, 1954 - A Historical Survey of Petrology, Engl. Ed., Oliver & Boyd, London, 112 pp.
(6) DIETZ, R.S., 1961 - Continent and Ocean Basin Evolution by spreading of the Sea Floor. Nature 190, pp. 854-857.
(7) HESS, H. H., 1962 - History of Ocean Basins. Geol. Soc. America. Buddington Special Volume, pp. 599-620.
(8) WILSON, J.T., 1963 - Continental Drift. Sci. Amer., 211, pp. 1-15.
(9) WILSON, J.T., 1969 - A New Class of Faults and their bearing on Continental Drift. Nature 197, pp. 536-538.
(10) VILJOEN, M. J. & R. P. VILJOEN, 1969a - An Introduction to the Geology of the Barberton Granite-greenstone Belt. Special. Publ., Geol. Soc. S. Africa 2, pp. 9-28.
(11) VILJOEN, M. J. & R. P. VILJOEN, 1969b - The Geology and Geochemistry of the Lower Ultramafic Unit of the Onverwacht Group and a proposed New Class of Igneous Rocks. Special. Publ., Geol. Soc. S. Africa 2, pp. 55-85.
(12) PECK, DALLAS, 1992) - Message from the Director, USGS.
(13) LYOTARD, JEAN-FRANÇOIS, 1979 - O Pós-Moderno. José Olympio Editora, 1990, Rio de Janeiro, 124 pp.
(14) COUTO, B. & J. VILLASCHI, 1992 - Cidade, Casa do Homem. Situação Ambiental e Qualidade de Vida na Região Metropolitana de Belo Horizonte e Minas Gerais, II Simpósio 1992 - Núcleo Regional de Minas Gerais (ABGE) , Anais, pp. 20-21.
(15) GUATTTARI, FELIX, 1990 - As Três Ecologias. Papirus Editora, Campinas, São Paulo, 56 pp.
(16) UNGER, NANCY MANGABEIRA, 1991 - O Encantamento do Hu
mano: ecologia e espiritualidade. Edições Loyola, São Paulo, 94 pp.
(17) DEVAL, B. & G. SESSIONS, 1985 - Deep Ecology; Living as if Nature Mattered. Peregrine Smith Books, Salt Lake City, USA.
(18) WARAT, L.A., 1990 - O Amor de Gigantes. Revista Humani
dades 20, pp.21-26.
(19) AMORIM FILHO, O. B., 1992 - Os estudos da Percepção como a Última Fronteira da Gestão Ambiental. Situação Ambiental e Qualidade de Vida na Região Metropolitana de Belo Horizonte e Minas Gerais, II Simpósio 1992 - (ABGE) , Anais, pp. 16-19.
(20) RISÉRIO, A., 1992 - A Hora da Sociologia Verde. Folha de São Paulo, Caderno "Ilustrada", 27/09/92.
(21) ALMINO, J., 1991 - A triste Ilusão dos Ecocêntricos. Jornal do Brasil, caderno Idéias, p. 10-11, 3/3/91.
(22) SIMON, CHERYL & RUTH S. DeFRIES, 1992 - Uma Terra, Um Futuro. Macron Books (copyright 1990,1992, National Academy of Scxiences, USA) , São Paulo, 189 pp.
(23) TER-STEPANIAN, G., 1988 - Beginning of the Technogene. IAEG Bull. 38, p. 133-142, Paris.
(24) KUKAL, Z., 1990 - Rhe Rate of Geological Processes. Czechoslovak Academy of Sciences, Praha, 284 pp.
(25) PRICE WATERHOUSE, 1992 - Reflexões e Ensaios sobre Sistemas de Informações e Meio-Ambiente. Ênfase, Série Relatórios Especiais.